Uma erva dos diabos
Succisa pratensis Moench
As designações vernáculas devil's bit e mordedura del diablo aludem ao rizoma desta planta perene que parece mordiscado a toda a volta, circunstância que o bom humor popular atribuiu a dentadinhas gulosas do demo para também ele beneficiar do poder terapêutico deste vegetal. Como se o mafarrico precisasse de mezinhas e poções. O nome Succisa, que quer dizer cortada rente, também fala da mordedura, mas desta vez pela voz erudita do latim. O povo luso, mais propenso a episódios bíblicos edificantes, chama-lhe erva-de-S.José, e nas fotos da inflorescência podemos perceber porquê: os quatro estames proeminentes de cada flor formam, com as anteras inclinadas na ponta, estruturas que lembram martelinhos de carpinteiro.
O género Succisa abriga 3 espécies, uma endémica dos Camarões; na Península Ibérica ocorrem as outras duas, ambas de floração tardia, no Verão e Outono: a S. pratensis e a S. pinnatifida. A primeira, comum na Europa, Oeste e sudoeste da Ásia, noroeste africano e Macaronésia, pode atingir um metro de altura e tem folhas elípticas quase inteiras que podem, contudo, variar bastante a partir deste figurino. Os capítulos florais, de cerca de 2,5 cm de diâmetro, parecem de Compositae mas nestes há brácteas minúsculas entre as flores. Habita prados húmidos, juncais ou turfeiras. A segunda, do norte e noroeste de Península Ibérica, distingue-se da espécie anterior pelas incisões vincadas nos bordos das folhas e pelo estilete mais longo, do comprimento dos estames. Pede terrenos xistosos e é um quasi-endemismo português. O quase tem a ver com o facto de, em Espanha, só existir a sul da Galiza, como aqui se explica; e também porque, por cá, tem vindo a rarear, consequência da eucaliptização e degradação das vertentes xistosas, como tão claramente testemunha a Serra de Valongo.
As flores neste género, predominantemente azul-violeta, têm quatro pétalas, uma maior, unidas na base, e são hermafroditas ou femininas. Coisas do diabo.
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