Unha-gata rilha-boi
Ononis pusilla L.
Se alguém quiser explicações para um título tão arrevesado — um arranjo dir-se-ia arbitrário de sílabas disparadas como balas —, fique sabendo que a culpa é do povo, como pode comprovar correndo os olhos pela última coluna desta página. O mesmo povo, supõe-se, que inventou, para deseducação das criancinhas, cantigas malvadas como Atirei com o pau ao gato (pena não te ter caído o pau na cabeça) ou surrealistas como as Pombinhas da Catrina (a propósito: a Quinta Nova fica no Douro, um pouco acima da barragem de Bagaúste; só falta descobrir o Pombal de São João).
Ainda que nos pudéssemos dar por satisfeitos com designações vernáculas tão variadas e pitorescas para o género Ononis, não resistimos à tentação de aumentar a lista: à unha-gata, ao rilha-boi e à joina-dos-matos-ou-das-areias propomos que se acrescente o pára-grades. Traduzido do inglês restharrow, o nome descreve o que (reza a lenda) sucedia quando certo utensílio agrícola, chamado grade, esbarrava com algum Ononis arbustivo na sua lida de lavrar o campo. Ao que parece, a planta era tão emaranhada e robusta que interrompia o curso da tarefa. O nome agora proposto vale por um tratado de etnografia: remete-nos nostalgicamente para a agricultura não mecanizada do passado, que nunca conhecemos, e ressuscita um instrumento de que nunca tínhamos ouvido falar.
Para concluir um breve apanhado que teve já dois fascículos, mostramos hoje mais duas espécies de pára-grades, uma de flores amarelas e outra de flores cor-de-rosa. Ao contrário do que as fotos possam sugerir, a primeira delas (O. pusilla), com o seu hábito rastejante e flores com cerca de 8 mm de diâmetro, é em tudo mais pequena do que a outra (O. spinosa), que tem hastes erectas (até 70 cm de altura) e flores que rondam os 15 mm. E a presença de espinhos, bem visíveis nas fotos aí em baixo, é uma característica que distingue a O. spinosa de todas as suas congéneres peninsulares.
Ambas as plantas são semi-arbustivas com base lenhosa, nativas de grande parte da Europa e do norte de África, com a O. spinosa, mais disseminada, a marcar ainda presença no Médio Oriente. Também em Portugal a O. spinosa, ocorrendo em todas as províncias, é mais comum do que a sua prima amarela, que, por preferir substratos calcários, está confinada ao centro do país (Beira Litoral, Estremadura e Ribatejo) e ao nordeste transmontano.
2 comentários :
Nomes do melhor que há :)
~CC~
olá
dado que tem a moderação ativada e pode apagar, vou usar os comentários para lhe pedir que me diga o que é isto:
http://www.opendrive.com/files/7298714_l6nDu/2010-09-21%20011.JPG
http://www.opendrive.com/files/7298715_ogIkx/2010-09-21%20021.JPG~
senhorsilva@gmail.com
muito obrigado!
Gil
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