06/09/2010

Água, sal & sol

Ponte sobre o rio Cávado – EN 308-4
Foz do Cávado
Cumprido mais um mês de Agosto, um relativo sossego terá regressado à foz do Cávado. É um rio que agrega muitas das paisagens marcantes do norte de Portugal. No Gerês vemo-lo desgraciosamente inchado por duas grandes barragens: a da Paradela e a da Caniçada. É lá que os aceleras de estrada se mudam para a água e dão asas à sua compulsão velocista com redobrado estrépito. Antes de chegar às barragens, porém, ou depois de escapar delas, o Cávado é um fio de água límpida saltitando de rocha em rocha com muitas árvores a servir-lhe de escolta. Junto à ponte sobre o rio logo acima da Paradela reúnem-se tantas e tão diversas plantas higrófilas (como esta) que não conheço local mais indicado para uma aula de botânica ao ar livre.

No estuário do Cávado há muito que ficou para trás o torturado relevo do Gerês. Em vez de cortar a direito para a foz, o rio ensaia uma curva para entrar no mar segundo uma trajectória quase tangencial à linha da costa. É na restinga que acompanha o rio nas suas centenas de metros finais, e também no sapal que se estende pela margem esquerda entre os núcleos urbanos de Fão e Esposende, que se encontra a justificação para se ter incluído esta área no Parque Natural do Litoral Norte (PNLN). Mas a ocupação desregrada de caminhos, dunas e pinhais pelos veraneantes, juntando-se à construção caótica que avassalou a zona (torres de Ofir e não só), torna inverosímil que este seja um espaço protegido.

Que há valores naturais a proteger, não se duvida. Porém essa protecção não surge magicamente com o decreto que cria uma área protegida. É preciso impor regras e vigiar o seu cumprimento, tarefas em que o PNLN é manifestamente omisso.

Armeria maritima Willd.
Uma das preciosidades do sapal (ou juncal) do Cávado, também presente na foz do vizinho rio Neiva, é a Armeria maritima, que florece vistosamente na Primavera e se dá bem em águas salobras. Em Portugal há muitas espécies de Armeria, mas aquelas que preferem zonas costeiras (como a A. welwitschii) estão concentradas no centro e sul do território. Pelo litoral norte ficamos só com a A. maritima e a mais discreta A. pubigera, que no nosso país são exclusivas do Douro Litoral e do Minho.

A A. maritima tem uma distribuição global muito ampla, abrangendo a América, a Europa e a Ásia. Na Europa ocorre não só em toda a costa atlântica desde o norte de Portugal, mas também na Grã-Bretanha, Itália e Balcãs.

1 comentário :

CCF disse...

Tem uma cor linda!
~CC~