14/09/2010

Morrião dos brejos

Anagallis tenella (L.) L.


Submersos pelas crises que nos tolhem o passo, pouco se tem discutido o facto de o sol ser uma estrela anã, que tem brilhado intensamente e por isso consumido hidrogénio com apetite voraz, não tardando o dia, que então se confundirá com a noite, em que só restará um carvãozinho frio. Acabarão finalmente os incêndios no nosso sistema planetário, é certo, mas alguns seres lamentarão este destino, como a herbácea da foto e as suas irmãs cujas flores temerosas só abrem se o sol as aquece.

Não há semelhança notória entre as manas e até Lineu hesitou: começou por chamar-lhe Lysimachia tenella e só depois emendou a mão para Anagallis (daí o (L.) L. no nome científico, que o leitor já estava a apontar no seu caderninho de erros deles). De qualquer modo, as flores são também de Primavera-Verão, miniaturais (cerca de 10 mm de diâmetro) e as folhas opostas, glabras e carnudas revelam alguma parecença com as dos outros morriões. Contudo, a planta da foto, que é perene e natural do oeste europeu, região mediterrânica e Macaronésia, é mais delicada (tenella) e precisa de solo bastante encharcado. Por isso rasteja, enquanto enraíza os ramos pelos nós, acedendo a mais água sem nunca se expor ao risco de apodrecer com a humidade excessiva.

Mas, ainda antes do sol, talvez se extinga por descuido de quem gere áreas (des)protegidas — apesar de, pelo menos nos Açores, constar da lista da flora vascular de conservação prioritária.

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