Pela bitola londrina, o Holland Park, encravado entre Kensington High Street e Notting Hill, é minúsculo: mede pouco mais de 20 hectares. Aberto em 1952, numa altura em que já existiam todos os grandes parques de Londres, veio ocupar parte dos terrenos da Holland House, uma casa senhorial que foi destruída pelos bombardeamentos da 2.ª Grande Guerra e de que hoje só restam duas alas desconexas, uma delas convertida em albergue de juventude. Mas o tamanho não é o único critério para avaliar um parque. O Holland Park tem jardins formais encantadores, como o jardim holandês que vemos enfeitado com tulipas, o jardim dos íris com um lago circular e um painel de azulejos por trás da arcada de tijolo, o pomar das laranjeiras, o roseiral com inúmeras variedades de rosas. Antes de entrarmos no bosque, um pequeno desvio leva-nos ao jardim de Quioto, uma perfeita miniatura oriental dominada por uma queda de água e cingida pelos meandros de um regato. Mas é no bosque que melhor se compreende a singularidade deste espaço: os caminhos estão ladeados por paliçadas de madeira, fazendo do arvoredo um autêntico refúgio tanto para a flora espontânea como para os pássaros, esquilos, coelhos e demais fauna. Não é só por graça que, na página dos Amigos de Holland Park, se lê «"The Friends of Holland Park" exist to save the countryside!». A frondosidade da vegetação e a exuberância da vida natural fazem-nos sentir muito longe da cidade - mas ela, incessante e tumultuosa, dista daqui só algumas centenas de metros.
Uma palavra sobre as fotos, tiradas em Maio numa visita que a chuva encurtou e durante a qual um esquilo pedinchão me trepou até à cintura. A estátua foi oferecida ao jardim das tulipas em 2003 pelos Amigos de Holland Park, e representa Mílon de Crotona, atleta grego do séc. VI a.C., multi-campeão nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Píticos, célebre pela sua força e voracidade. Já velho, quis experimentar as forças separando em dois, com as mãos desarmadas, o tronco de uma árvore: numa lição memorável para todos quantos maltratam árvores, as duas metades fecharam-se sobre ele, que ficou entalado e acabou comido pelos lobos; a estátua reconstitui justamente esse seu gesto fatal.
Um dos acessos ao bosque é por um corredor rectilíneo pavimentado com lajes e com dois choupos de vigia à entrada; de ambos os lados do corredor, distribui-se uma variadíssima colecção de áceres arbóreos e arbustivos, quase todos de origem asiática.
As últimas fotos comprovam como os sinos azuis podem às vezes ser brancos. Os bluebells (Hyacinthoides non-scripta) são característicos dos bosques ingleses, onde formam a partir de Abril extensos tapetes azuis; e só muito raramente, para não estragarem o efeito do conjunto, fazem brotar flores brancas. Vi-os azuis em vários lugares (Kew Gardens, Victoria Park, Hampstead Heath), mas só no Holland Park os encontrei brancos. Estava tentado a saltar a vedação para tirar o retrato a esses albinos, arriscando-me a pesada e bem merecida multa, quando um deles, acenando-me do lado de cá, me salvou o dia. Não me importei nada de o fotografar à chuva.