Quem te viu
Eryngium maritimum
Um planta em fim de vida, como este esquelético cardo-marítimo, pode funcionar como metáfora do ano que termina logo à noite, exactamente antes de rebentarem os primeiros foguetes. Mas este exactamente é, como se sabe, pura convenção: depende não só do fuso horário, mas também de se ter estabelecido, no mundo ocidental, o dia 1 de Janeiro como o primeiro de cada ano. Se a elíptica peregrinação da Terra em volta do Sol nos obriga a aceitar cada período de 365 dias como um importante intervalo cronológico, nenhum fenómeno natural nos indica em que dia devemos iniciar a contagem. Os supersticiosos das datas e dos horóscopos, se dessem ouvidos a estas singelas razões, nada teriam a temer das passagens de ano, e nem sequer das passagens de milénio (além de deixarem de acreditar em horóscopos). Mas também de pouco adianta desafiar com fria lucidez as crenças e convenções com que todos se governam. É pois com feliz resignação que nos juntamos à festa pela melhor das razões: é que logo à meia-noite começa um novo ano - e ainda bem, pois o de 2007, gasto como está, já deu quanto tinha a dar.