Vestir a manta
Nas terras de Sicó é suave a ondulação dos montes, o que faz com que os carvalhais sejam bem diferentes daqueles que encontramos no noroeste do país. É também verdade que o carvalho é outro: num arroubo de nacionalismo até lhe chamamos carvalho-português, embora isso não o tenha impedido de se instalar igualmente em Espanha. O carvalho-roble nortenho (Quercus robur), por seu turno, é claramente internacional, sem que isso o faça menos português. Não serão pois razões patrióticas que nos farão preferir um carvalho ao outro. Ambos têm uma dignidade admirável que a idade só reforça. No que toca à beleza, o ponto forte do carvalho-roble é a cor luzidia da sua folhagem primaveril. Por contraste, as folhas do carvalho-português (ou carvalho-cerquinho) começam por ser pálidas e baças, ganhando vivacidade à medida que a Primavera amadurece. O primeiro estreia triunfalmente a sua manta nova; o segundo insinua-se devagarinho nos nossos sentidos. Digamos que o marcador regista um empate no final do prolongamento.
Os concelhos de Ansião e Alvaiázere albergam a maior mancha ibérica de carvalho-cerquinho. A rota do carvalho cerquinho, iniciativa da associação Terras de Sicó, estende-se por trinta quilómetros e permite caminhar um dia inteiro entre carvalhais quase ininterruptos. E, agora que é tempo de orquídeas, assinale-se que algumas delas (como a Neotinea maculata e a Cephalanthera longifolia) preferem a sombra protectora dos carvalhos à vegetação rala da crista dos montes.
O carvalhal que ilustra esta conversa, fotografado em Março e Abril deste ano, não está incluído na rota pedestre. Cercado por um olival e por campos de cultivo, terá uns quatro ou cinco hectares, e é uma amostra preciosa, fartamente sonorizada pelo canto dos pássaros, do muito que há de bom por terras de Sicó.