Dunas de São Jacinto
Já aqui explicámos a peculiar situação geográfica de São Jacinto, freguesia de Aveiro separada pela ria da sua sede de concelho. Não pudemos visitar a Reserva Natural aquando da nossa imprevidente primeira viagem, e por isso voltámos lá algumas semanas mais tarde, dessa vez seguindo a EN 327 desde Ovar. Pouco depois da Torreira - que é a outra localidade, essa pertencente ao concelho da Murtosa, nesta península que se alonga de Ovar a São Jacinto - a reserva começa a acompanhar a estrada pelo lado poente, enquanto do outro lado a ria nunca nos sai da vista. É por isso impossível não dar pela reserva - mas, para que a visita seja compensadora, convém iniciá-la no posto informativo (que fecha aos domingos e feriados). É que, se não seguir o trilho certo, o mais provável é que o visitante não encontre nem o caminho para as dunas nem para a pateira. A reserva é cortada por uma rede de aceiros, amplos caminhos em linha recta que correm uns paralelos e outros perpendiculares à ria. Assim, o risco de alguém se perder é diminuto: basta tomar um aceiro na direcção da ria e em vinte ou trinta minutos reencontra a EN 327.
Serve isto para dizer que não começámos a visita por onde devíamos, mas a sorte ajudou-nos e encontrámos um guia prestável que nos pôs no rumo certo. Antes disso, chegámos a subir à torre de vigia, coisa que os visitantes bem comportados estão impedidos de fazer. Tivemos também ocasião de perceber a gravidade da infestação por acácias (Acacia longifolia), que obriga a desmatações frequentes numa guerra que dificilmente poderá ser vencida. Além das acácias, o coberto arbóreo, essencial para a fixação das areias, inclui muitos pinheiros-bravos, alguns medronheiros, salgueiros, choupos e amieiros, e uma população surpreendentemente abundante de faias-das-ilhas (Myrica faya). Seria interessante saber se a M. faya foi introduzida em São Jacinto, como os pinheiros e as acácias, na época em que a mata foi semeada (entre o final do século XIX e a década de 1930), ou se surgiu lá espontaneamente.
Encontrar o passadiço de acesso às dunas, depois de uma interminável caminhada na mata por um trilho perversamente coleante, é como chegar ao primeiro degrau da escadaria que leva ao paraíso. Começam ali as maravilhas que se vão refinando à medida que subimos, até que no miradouro se cumpre a promessa do mar aberto, rodeado de silêncio e de dunas sem mácula. De início, bordejando o passadiço, há pinheiros, camarinhas (2.ª foto), acácias e uma profusão de pequenas plantas dunares; à vista do Atlântico, na crista dunar (3.ª foto), a vegetação rarefaz-se e fica reduzida ao estorno (Ammophila arenaria). O regresso - inevitável porque o paraíso é para se tomar em pequenas doses - faz-se pelo mesmo viaduto de madeira suspenso por estacas sobre as dunas (1.ª e 4.ª fotos).