30/06/2005

365 dias com árvores

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Vai um copito?... Do melhor licor de pilritos?

À nossa, aos nossos amigos, e claro, a elas!
Foram, aqui, 365 dias com árvores ;-)

Faz um ano que cá andamos... "parece que foi ontem".

"Saúde!"

Há um ano: Vermelho e Verde; Metrosidero em flor no Passeio Alegre.
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(Post Script:
2 de Julho- Obrigadíssima a tod@s ; mais logo conto a historinha do nascimento do blogue e faço uns agradecimentos mais "conformes" ;-)
4 de julho: O prometido é devido - Como surgiu o blogue: Apesar de utilizar sistematicamente a internet para projectos de variada índole, a estreia na blogosfera, como leitora assídua e "comentadora", apenas ocorreu cerca de um ano atrás. Na sequência de uma visita guiada a algumas árvores monumentais da cidade do Porto (no âmbito de umas visitas a Jardins Históricos promovidas pela Campo Aberto
), quando um amigo chamou a atenção para uma entrada sobre esse passeio, no Janela Indiscreta. Intitulava-se À sombra e fiquei encantada com a simpatia da descrição e com a enumeração das árvores que tínhamos visitado. Pouco tempo depois -e como acontece, podemos agora dizê-lo, sazonalmente- vieram à baila os jacarandás, e como tinha escrito um textozito sobre o assunto havia pouco, não resisti e mandei o link à C. que muito gentilmente o aproveitou em Jacarandás: adenda ao processo em curso.
Mas como sempre que lia qualquer coisa sobre árvores me apetecia comentar ou imaginava o que sobre o assunto poderia escrever (ou ja tinha escrito), depressa deixou de fazer sentido andar a publicar nos blogues de outros por mais simpatia que merecessem, por isso avançar para a edição de um blogue foi uma decisão rápida.
A C. saudou de modo especial uma das primeiras entradas Quais são as árvores de Julho? e nunca esquecerei essas primeiras visitas e comentários, dela e não só...
Claro que convidei logo para esta nova aventura os amigos com os quais tinha escrito nos cinco meses anteriores o
livro sobre as árvores do Porto : as árvores fazem os nossos dias e por isso dias com árvores se chama o nosso blogue.

29/06/2005

Boa notícia -Árvores de Portugal e Europa

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Há muito tempo esgotado, o Guia Fapas, Árvores de Portugal e Europa
(por C. J. Humphries et all) já está disponível!

Bem/vem mesmo a propósito da conversa sobre os nomes das árvores!









o-bri-ga-dá-su-sa-na ;)
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Descoberta graciosa



Fotos: pva 0506 - Brachychiton acerifolius - Rua da Graciosa, Porto

Família: Sterculiaceae
Do latim Sterculius, divindade ligada ao adubo da terra. Esta é uma família relevante no mundo alimentar por causa de 3 das suas espécies de origem tropical: a cola (Cola acuminata, de origem africana), cujas sementes são usadas no fabrico da bebida refrigerante homónima; o cacaueiro (Theobroma cacao, brasileira) de cujas sementes se faz a manteiga de cacau, o licor de cacau e o chocolate; e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum, brasileira) cuja polpa é usada em doces e sorvetes.

Género: Brachychiton
Do grego brachys, que significa curto, e chiton, túnica, em alusão à penugem que envolve as sementes na vagem.

Espécie: acerifolius
Do latim acer e folius, refere-se à forma da folha, semelhante à do Acer saccharum.

Nome comum: árvore-do-fogo
As flores não têm pétalas: as campânulas vermelhas são formados pelos estames unidos.

Anterior do mesmo género: Brachychiton populneus

28/06/2005

Os nomes das árvores

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Quantas vezes os nomes científicos das árvores parecem complicados e difíceis de entender? Os próprios nomes vulgares ou comuns são frequentemente autênticos enigmas! No entanto todos têm alguma razão de ser e o conhecimento da sua origem e significado, levando a uma mais profunda compreensão das características e história das árvores (e outras plantas) com que nos cruzamos diariamente, faz com que melhor as apreciemos.

O conhecimento do nome científico é também vantajoso segundo um ponto de vista prático porque permite que não se adquiram ou encomendem espécies que não eram realmente as pretendidas, pois enquanto que o nome comum ou vernacular pode designar por vezes plantas diferentes, o científico, em latim, é único e usa-se internacionalmente.
A designação científica é composta, pelo menos, por dois elementos que se costumam escrever em itálico: o primeiro é sempre um substantivo próprio, grafado com inicial maiúscula, designando o género, seguido de um adjectivo que caracteriza a espécie, escrito com letra minúscula. Quando há maior preocupação de rigor acrescenta-se a abreviatura do nome do botânico responsável pela designação, por exemplo: Camellia japonica L., em que o L. maiúsculo se refere a Lineu (1707-1778), ilustre botânico sueco e o único que nas designações científicas aparece representado apenas por uma letra.

Ambas as palavras designativas do género e da espécie são, como já se referiu, significativas, transmitindo variadíssimas informações sobre as árvores. Por exemplo, a origem: C. japonica (do Japão); algum aspecto morfológico: Tilia cordata (com a folha em forma de coração, do latim cor, cordis, coração); a abundância ou frequência da espécie: Malus communis, etc. , etc..
Por vezes ficamos mesmo a saber quem descobriu ou descreveu pela primeira vez essas plantas. Isso acontece quando, para designar o género ou a espécie, são adoptadas as formas latinizados dos nomes dessas pessoas, sendo um modo dos botânicos homenagearem colegas, naturalistas ou mecenas (o que aliás até acontece mesmo quando a planta não tem nada a ver com o botânico homenageado).

No caso de ser a designação do género a tomar a forma latinizada do nome da pessoa, é interessante notar que é frequente passar para a língua comum. Estão neste rol tanto árvores muito conhecidas, como por exemplo a camélia ( de Joseph Camel) e a magnólia (de Pierre Magnol), como outras cujos nomes são menos conhecidos entre os leigos. Entre estas últimas podemos referir justamente a albízia.
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Os nomes das árvores - Albizia julibrissin

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São diversos os nomes comuns desta árvore com flores de longos estames sedosos: "árvore-da-seda", "acácia-de-Constantinopola" (em francês e italiano), "mimosa rosa" (em francês), simplesmente mimosa (em algumas zonas dos Estados Unidos) e albízia-de-Constantinopola ou apenas albízia, vocábulo derivado directamente da designação científica do género: Albizia julibrissin Durz. .
Esta deve-se ao botânico italiano Antonio Durazinni que adoptou na sua nomenclatura o nome do introdutor da espécie na Europa, o naturalista amador Filippo degli Albizzi, que a trouxe da capital do império Otomano em 1745. No entanto esta árvore não é originária da Turquia mas de uma zona que se estende do Irão à China e "julibrissin", o designativo da espécie, deriva do seu nome persa.
Ao vê-la assim grácil nas ruas das cidades poucos imaginarão que o seu habitat natural - florestas, ravinas batidas pelo sol, margens de rios - se estende acima de 2000 metros nos Himalaias!

27/06/2005

Albízias em flor



Fotos: pva 0506 - Albizia julibrissin - Grijó, Vila Nova de Gaia

Esta pequena árvore originária da Ásia, da Pérsia até ao Japão, de seu nome Albizia julibrissin, é muito semelhante à acácia-mimosa, e de facto os dois géneros, Albizia e Acacia, pertencem à mesma divisão (Mimosoideae) da família das leguminosas; mas, como a albízia não é invasora, e é de belo efeito ornamental, não há motivo para a ostracizar.

As folhas da Albizia julibrissin são escuras, bipinuladas e têm até 20 cm de comprimento; durante a floração os estames formam vistosos tufos rosados. A árvore não ultrapassa os dez metros de altura, mas tem uma copa muito larga; por esse motivo, não deve ser plantada em locais estreitos.

No Porto há um pequeno conjunto de jovens albízias na rua do Bom Sucesso, junto ao cruzamento com a rua do Campo Alegre. O exemplar da foto encontra-se em Grijó, no concelho de Vila Nova de Gaia.

26/06/2005

Mais quadras de S. João...

aqui
(adenda: e aqui )

Sobras...

.............. da noite mais longa do Porto























Alhos-porros frente à Igreja dos Clérigos
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25/06/2005

O fingidor


Foto: pva 0506 - Aquilegia olympica, Royal Botanic Gardens, Kew

Não sei que flores te dar
Para os dias da semana.
Tens tanto sonho no olhar
Que o teu olhar sempre engana.

Fernando Pessoa, Quadras (Assírio & Alvim, 2002)

24/06/2005

Quadras de S. João

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Ó Anjo da minha guarda
Quem vos varreu o terreiro?
As cachopas de Alpedrinha
C'um raminho de loureiro.

S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira,
Cobriu-se todo de flores,
S. João que bem que cheira.

Na noite de S.João
Vou fazer uma fogueira
Com folhas de verde louro
Com rosmaninho que cheira.

Hei-de deixar ao relento
Uma folha de figueira
Se S. João a orvalhar
Hei-de encontrar quem me queira.

in Velhas Canções e Romances Populares Portugueses
de Pedro Fernandes Thomás, Coimbra: F. França Amado Editor, 1913

23/06/2005

Desenhada para pássaros



Erythrina crista-galli no Jardim da Cordoaria

As árvores e arbustos do género Erythrina, da família Leguminoseae, são de identificação fácil na presença das folhas pois estas são tipicamente trifoliadas, com pecíolo central mais longo e uma manguinha em cada folíolo. Os ramos são numerosos, hirtos, nodosos e, enquanto jovens, cobertos de espinhos.

As flores nas cerca de 120 espécies, endémicas de áreas tropicais e subtropicais, exibem uma interacção fascinante com os diferentes pássaros que actuam na polinização: em algumas zonas asiáticas secas, os estames são longos e duros servindo como poleiros de onde o pássaro se alimenta e dessenta com o néctar, que é aquoso; noutras as pétalas são tubulares, como palhinhas de beber, adaptadas a colibris de bico longo; noutras ainda as flores, voltadas para dentro, parecem colheres de chá de onde o néctar goteja para delícia de pardais inquietos.

A designação científica deste género, do grego erytrhós, alude à cor geralmente vermelha das flores. Os epítetos das espécies têm história mais divertida, que causou confusão considerável na literatura botânica. A espécie de folha variegada (verde com veios amarelos) foi a primeira a ser conhecida e a ser nomeada: passou a chamar-se Erythrina variegata. As formas não-variegadas que foram descobertas posteriormente, de início consideradas de outra espécie, receberam o nome Erythrina indica. Quando ficou claro que na verdade se tratavam de variedades de uma mesma espécie, houve que ajustar as designações científicas. Seguindo a regra que dá precedência ao nome mais antigo, E. variegata sobreviveu como a designação da espécie, passando a haver E. variegata var. indica e E. variegata var. variegata...

Os exemplares das fotos vegetam no Jardim da Cordoaria (E. crista-galli, antes E. pulcherrima) e no Jardim Botânico do Porto. Há outros igualmente vistosos no Palácio de Cristal e num jardim particular do bairro do Campo Alegre. Mas no Porto a mais deslumbrante E. crista-galli (espécie da América do Sul, que prefere climas mais frios), com uma cascata de flores e folhas que faz parar o trânsito, está numa esquina da rua 5 de Outubro, no jardim de um palacete onde já funcionou o consulado de um país sul-americano.


Erythrina variegata no Jardim Botânico do Porto
Fotos: pva 05

21/06/2005

«Meu coração é um tanque
Cheio de água, mete medo:
Abre-te meu coração
Vai regar o arvoredo.»

Para os amigos do Sargaçal que hoje esteve a arder (ainda estará?)

ALIADOS - actualização

  • "Avenida dos Aliados: cá se fazem, cá se pagam" -Leia a opinião de Dulce Marques de Almeida, Mestre Arquitecta de Arquitectura Bioclimática , Investigadora de Environement, Energy and Sustainable Design, AA, Londres Reino Unido (Publico Local Porto 21 de Junho 05)
  • "Silêncio: a obra vai começar!" - Recorde o que sobre o projecto de requalificação para a Avenida dos Aliados escreveu a arquitecta paisagista Teresa Andresen, Professora Associada, Departamente de Botânica, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (Publico Local Porto 22 de Março 05).

Kurrajong




Fotos: pva 0501/0505 - Brachychiton populneus - Palácio de Cristal, Porto

A árvore da foto, situada no patamar superior do roseiral do Palácio de Cristal, é uma das mais bonitas do jardim, com o tronco maciço e a copa simétrica a sugerirem uma solidez imperturbável. Trata-se de um Brachychiton populneus, espécie originária da costa leste da Austrália. Uma possível designação portuguesa da árvore, conhecida no seu país pelo nome aborígene de kurrajong, é braquiquito (perferível ao braquiquitom defendido por alguns autores, pois a terminação om soa mal em português).

O ritidoma do braquiquito é cinzento-acastanhado, de textura granulosa, marcado por fissuras verticais. As folhas, lustrosas e pendentes, são algo semelhantes às dos choupos (daí o epíteto populneus), embora apresentem por vezes três lobos pontiaguados. Algumas árvores perdem a folhagem por um curto período no início do Verão, altura em que o chão à volta delas fica atapetado com as suas minúsculas flores (1,5 cm de diâmetro) em forma de campânula.

O braquiquito é muito resistente à falta de água e por isso usado na Austrália como forragem em períodos de seca; e, pela sua sombra ampla e forma harmoniosa, é também lá vulgarmente empregue na arborização de ruas e avenidas. No Porto, além do magnífico exemplar no Palácio de Cristal, há outros de menor porte na Rotunda da Boavista, em Serralves (mesmo à frente da Casa), na Rua do Bonjardim (perto do cruzamento com a Rua de Gonçalo Cristovão) e em vários outros locais da cidade; em Coimbra, encontramo-lo em abundância na alameda de entrada da Quinta das Lágrimas.

20/06/2005

Os nomes das árvores: Magnolia grandiflora

A designação vulgar de "magnólia" abrange actualmente mais de uma centena de espécies de árvores e arbustos originários tanto da América Central e do Norte como da Ásia.
A primeira magnólia a chegar à Europa -uma Magnolia glauca [M. virginiana; "Rose Laurel," sweet bay", "swamp magnolia"]- proveio da Virgínia, em 1688, enviada pelo missionário e botânico John Banister e foi plantada no parque do bispo de Londres, em Fulham. A designação do género, anterior a Lineu, deve-se a Charles Plumier, botânico do monarca francês, que em fins do séc. XVII assim pretendeu homenagear Pierre Magnol (1638-1715), autor da primeira classificação das plantas em "famílias" e director do Jardim Botânico de Montpellier, o mais antigo de França.
As famíllias agrupam árvores com características semelhantes, e aquela a que pertence o género Magnolia, designa-se justamente por Magnoliaceae. Um dos seus traços distintivos é a forma particular da flor em forma de tulipa. Refira-se a propósito que os tulipeiros (Liriodendrum tulipifera) pertencem também a um dos dez géneros desta famíla.

As magnólias que agora florescem são as Magnolia grandiflora, vulgarmente designadas apenas por "magnólia" ou "magnólia-branca", "magnólia-de-flores-grandes", "magnólia-sempre-verde" e ainda, simplesmente, "grandiflora".
É uma espécie perenifólia originária do sudeste dos Estados Unidos, a "sweet magnolia" das canções, conhecida também por "Southern magnolia" e "Bull Bay".
O primeiro exemplar plantado na Europa no início do séc. XVIII vegetou tristemente durante cerca de 20 anos numa estufa perto de Nantes, antes de ser transplantado para o exterior onde finalmente se desenvolveu e floriu abundantemente, atraindo visitantes de muito longe. O designativo da espécie, "grandiflora" faz jus às belíssimas flores brancas que podem em certos casos atingir cerca de 25 cm. de diâmetro, e que são com efeito as maiores do género.

19/06/2005

Perfume de passagem


Foto: pva 0506 - flor de Magnolia grandiflora

Não nos furta, às vezes,
a fumarada dos carros
um perfume a flores.

Jorge Vilhena Mesquita, O sentimento da ausência (Edições Sempre-em-pé, 2005)

18/06/2005

"the moral value of flowers..."

«Who can estimate the elevating and refining influences and moral value of flowers with all their graceful forms, bewitching shades and combinations of colors and exquisitely varied perfumes?
These silent influences are unconsciously felt even by those who do not appreciate them consciously and thus with better and still better fruits, nuts, grains, vegetables and flowers, will the earth be transformed, man's thought refined, and turned from the base destructive forces into nobler production.»
(citação daqui)
George Schoener (1864 -1941) in The Importance and Fundamental Principles of Plant Breeding
(Para a Rosa pela Gardénia ;-)
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17/06/2005

Hampstead Heath



Domingo de manhã em Londres: céu opaco, temperatura amena. É na Charing Cross Road, mesmo à frente da Foyles, que apanho o autocarro 24 para Hampstead Heath. Como é próprio do turista que sou, subo ao primeiro andar e fico a varrer o panorama citadino com olhos que nem faróis. Depois da rua das livrarias, um Freddie Mercury à escala natural em equilíbrio na fachada de um teatro, pavoroso de tão dourado, dá-nos as boas-vindas em Tottenham Court Road, a feia rua dos electrodomésticos, redimida por ocasionais vislumbres das sossegadas praças de Bloomsbury.

Continuando para norte, ladeamos a estação ferroviária de Euston. Tantas vezes por aqui passei que me assalta uma nostalgia ridícula: será que a WH Smith ainda lá mantém a mega-loja - igual às milhares de outras sucursais espalhadas pelo país - de livros, revistas e chocolates? Não me apeio para averiguar, e o autocarro já avança, bamboleante, em direcção a Camden Town. O mercado hippie-tardio lá se mantém florescente, agora aberto todos os dias; mas, entre as montras de genuína quinquilharia alternativa, algumas lojas de marca causam uma impressão dissonante.

O autocarro desvia-se da rua principal e, depois de atravessar uma zona residencial fartamente arborizada, chega ao termo do seu percurso nas franjas de Hampstead, bonito bairro de gente abastada com ruas íngremes e serpenteantes. A visita ao bairro ficará para outro regresso, pois hoje é a Hampstead Heath que me dirijo.

Com os seus 320 hectares (quatro vezes a área do nosso Parque da Cidade), Hampstead Heath não é, ainda assim, o maior parque urbano de Londres: os parques de Richmond e Hampton Court excedem-no largamente. Mas é mais do que suficiente para que quem nele se embrenhe ouça o silêncio apenas quebrado pelo canto dos pássaros. Tirando o parque infantil e uns campos de ténis no seu limite sul, Hampstead Heath não tem equipamentos: nem estádios, nem cafetarias, nem pavilhões temáticos, nem centros interpretativos, nem circuitos de manutenção. São só 320 hectares de prados, caminhos, árvores, bosques densos, lagos. Em 130 anos, desde que o parque foi criado, ninguém quis valorizá-lo com construções espúrias ou rasgá-lo com rodovias. É verdadeiramente singular, a olhos portugueses, que um parque tão despojado de atractivos postiços tenha tanta procura mesmo com tempo agreste. Desta vez não subo à Parliament Hill, um dos melhores miradouros de Londres, mas sei que, como em todos os domingos, a colina está engalanada de esvoaçantes papagaios de papel.

Entro em Hampstead Heath e sigo para norte, em direcção à Kenwood House, casa palaciana ao gosto italiano cujos terrenos, incluindo um jardim formal e um antigo e valioso bosque de carvalhos e faias, foram anexados ao parque na década de 1920. Sempre que faço este passeio acabo por tomar um caminho diferente - o que é outro modo de dizer que sempre me perco. É por isso improvável que alguma vez reencontre estas árvores formidáveis com que deparo a cada curva do meu irrepetível caminho.



Mas, chegado à meta depois de uma hora de caminhada, renovo a amizade com uma velha conhecida: é uma simples magnólia de folha caduca, de tronco curto retorcido pela idade, moradora no terço superior do relvado que desce da fachada principal da casa até ao lago. Dezasseis anos depois do nosso primeiro encontro, ainda está no seu lugar exacto. Enquanto puder, voltarei com a certeza de a reencontrar. A placa que a protege diz isto: THIS IMPORTANT MAGNOLIA TREE CAN BE DAMAGED BY SWINGING ON IT. PLEASE KEEP OFF.



(Por cá, para não ter desgostos, é melhor cultivar a indiferença e o esquecimento. De que me vale gostar das magnólias junto à Igreja dos Congregados, agora que o dream team as condenou à morte?)

Fotos: pva 0506 - Hampstead Heath, Londres

16/06/2005

Introdução à Inglaterra


Foto: pva 0506 - plátano em Hampstead Heath, Londres

«Eu sei que é ridículo em Portugal amar outros países, quando é hábito, e mesmo uma instituição nacional, fazer profissão de amor pelo nosso. É precisamente isto que eu acho um pouco ridículo, um pouco ingénuo, talvez como que a suspeitosa necessidade de reafirmar patriotismo, peculiar às pátrias muito jovens ou bastante provectas. (...) Os portugueses não têm, em geral, destas segundas pátrias, uma vivência profunda, talvez porque não saibam verdadeiramente viver, de ponta a ponta, lucidamente, a vida que racionalmente criaram. (...)

Para um natural de um país onde tudo desaparece, onde as memórias (históricas ou individuais) são um exercício convencional, é sentimentalmente agradável e espiritualmente de uma suave amargura viver num país cuja vida é socialmente um exemplo da lei de Lavoisier ou, mais latamente, do princípio da conservação da energia... Aqui, nada se perde, tudo se transforma; é possível viver-se, sem nostalgias literatas ou patrioteiras, no real rio sempre fugidio da vida, sabendo que as águas não são as mesmas, mas o rio é. (...)

Em Portugal, é diferente: tudo se perde, e nada se transforma. Aqui, perto de mim, nesta aldeia do Buckinghamshire de onde escrevo(*), para além destas árvores magníficas onde há pássaros e passeiam esquilos, está o velho cemitério acerca do qual Gray escreveu um dos mais belos poemas do século XVIII (**). Toda a gente aqui sabe disto, e é difícil distinguir quem está em dívida, se o velho cemitério à volta da igrejinha, se o sábio e catedrático Gray.»

Jorge de Sena, Sobre Literatura e Cultura Britânicas (ed. Relógio D'Água, 2005)

(*) Stoke Poges
(**) Elegy Written in a Country Church-Yard de Thomas Gray (1716-71)

15/06/2005

...no jardim do Passeio Alegre...

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Foto manueladlramos 0404
Araucárias em primeiro plano e ao fundo, diante do mar, as palmeiras *

Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos

vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,

para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis - assim nuas.

Eugénio de Andrade (Rente ao Dizer, 1992)

*Tal como o jacarandá do Viriato, também as 63 araucárias (Araucaria heterophylla) e as 28 palmeiras (Phoenix canariensis) do Jardim do Passeio Alegre foram classificadas de interesse público em Janeiro passado.
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14/06/2005

Abaixo-assinado em defesa da Av. dos Aliados

Está em curso a recolha de assinaturas para um texto que contesta as obras em curso na Avenida dos Aliados (Porto). Esse texto deverá ser publicado, acompanhado pela lista dos subscritores, como anúncio pago na imprensa diária. O seu teor é o seguinte:

«Vimos manifestar o nosso desacordo pelo modo como está a ser imposta à cidade do Porto, sem consulta pública, uma transformação radical do conjunto Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade, e exprimir o nosso desgosto pela perda patrimonial e descaracterização da cidade que o projecto determina.

Apelamos aos poderes públicos, e em particular ao Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto, e ainda ao Sr. Presidente da Comissão Executiva da Metro do Porto, S.A., assim como aos Arquitectos responsáveis pelo projecto de requalificação, para que este seja reconsiderado de modo a que se salvaguarde o património histórico insubstituível e o valor simbólico desta zona da cidade, nomeadamente no que respeita à preservação da calçada portuguesa, das zonas ajardinadas e das magnólias junto à Igreja dos Congregados.»


Quem quiser juntar o seu nome a este manifesto deve contactar o endereço electrónico portoaliados@sapo.pt indicando o seu nome, profissão, n.º do bilhete de identidade, data de emissão e arquivo. [Os dados do BI não serão divulgados publicamente, servindo apenas para autenticar as assinaturas.]

Eugénio de Andrade: a nossa pequena antologia

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Véspera do sol
Abate de áceres platanoides na avenida dos Aliados
Essa alegria só prometida às aves (*)
Parque da cidade #1
O espírito do outono
Música da terra -Antologia do Porto
As Palmeiras
A uma cerejeira em flor
"Com os lódãos" - poesia
Flores para Eugénio
Escrito no muro
São coisas assim...
Ciência descobre a arma do crime
"O Copo de Água"
Extravasou do largo o jacarandá...
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13/06/2005

Copo de água

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Devia ser nos começos do verão, os inumeráveis jacarandás de Jerez de la Frontera estavam em flor. Nos pátios da luxuosa vivenda onde me haviam instalado (que o Governo confiscara a um riquíssimo produtor de vinhos da região por fraude fiscal, agora destinada a hospedar gente da cultura), os repuxos erguiam os seus irisados fios de água para logo os deixar cair molemente na face doutras águas cativas em grandes taças de mármore, onde já flutuavam uma ou outra flor de jacarandá.
Aquele rumor, a que se misturava às vezes algum canto de ave, parecia-me então a música do paraíso.
Durante aqueles dias, eu ficava por ali sentado toda a manhã com os meus papéis e um copo de água, que o caseiro me punha em cima da mesa, um copo de cristal com grinaldas de flores
gravadas na parte superior.
Poucas coisas haverá tão bonitas como um copo de água fresca no verão, mesmo quando o vidro não tem o brilho e a transparência do cristal.
O caseiro, cuja voz vinda doutro pátio me prendia a atenção com cantares andaluzes muito ornamentados, também colocava cuidadosamente à noite,
na minha mesa de cabeceira, um copo de água em tudo semelhante àquele de que falei.
E como lhe referisse a beleza, ele ofereceu-me, ao partir, o que estava no meu quarto, como lembrança da minha passagem pela casa.
É esse copo que, desde então - e já lá vão tantos anos! - tenho à cabeceira, e sempre com água fresca, como se o verão e a luz dos jacarandás durassem eternamente.

Eugénio de Andrade (Foz do Douro, 24.3.2001) in "Inimigo Rumor"
(copiado daqui)

Extravasou do largo o jacarandá...

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Jacarandá do Largo do Viriato numa manhã de Verão de há dois anos

Extravasou do largo o jacarandá
Com as suas flores miúdas
Ocupa agora toda a manhã.
(Jorge Sousa Braga, in Fogo sobre fogo)
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"O Copo de Água"

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Devia ser nos começos do verão,
os inumeráveis jacarandás
de Jerez de la Frontera estavam em flor.
Nos pátios da luxuosa vivenda
onde me haviam instalado
(que o Governo confiscara
a um riquíssimo produtor de vinhos da região
por fraude fiscal,
agora destinada a hospedar gente da cultura),
os repuxos erguiam
os seus irisados fios de água
para logo os deixar cair molemente
na face doutras águas cativas
em grandes taças de mármore,
onde já flutuavam uma ou outra flor de jacarandá.
Aquele rumor, a que se misturava às vezes
algum canto de ave, parecia-me então
a música do paraíso.
Durante aqueles dias, eu ficava por ali
sentado toda a manhã com os meus papéis
e um copo de água, que o caseiro me punha
em cima da mesa, um copo de cristal
com grinaldas de flores
gravadas na parte superior.
Poucas coisas haverá tão bonitas
como um copo de água fresca no verão,
mesmo quando o vidro não tem o brilho
e a transparência do cristal.
O caseiro, cuja voz vinda doutro pátio
me prendia a atenção com cantares andaluzes
muito ornamentados,
também colocava cuidadosamente à noite,
na minha mesa de cabeceira,
um copo de água em tudo semelhante
àquele de que falei.
E como lhe referisse a beleza, ele ofereceu-me,
ao partir, o que estava no meu quarto,
como lembrança da minha passagem pela casa.
É esse copo que, desde então
- e já lá vão tantos anos! -
tenho à cabeceira, e sempre com água fresca,
como se o verão e a luz dos jacarandás
durassem eternamente
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Eugénio de Andrade (Foz do Douro, 24.3.2001)
in "Inimigo Rumor" (copiado daqui)
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Notícias ilustradas



1) Um benefício estético do novo esquema viário em vigor na zona do Hospital de Santo António é que todos os automobilistas que venham da Baixa e se dirijam às ruas da Restauração ou D. Manuel II são obrigados a passar pelo jacarandá do Largo do Viriato (tal como continuam a sê-lo os que circulam no sentido oposto). A presença da árvore em flor no centro do largo não ajuda à fluidez do trânsito, pois todos abrandam para melhor a admirar. Não é caso para menos: como é do conhecimento geral, ela foi em Janeiro passado declarada de interesse público pela Direcção-Geral dos Serviços Florestais; e, agora que está vestida de lilás, o público ao volante não pode deixar de manifestar o seu interesse. (Murmuram-me que não é por culpa da árvore que o trânsito é lento, mas não acredito. Haverá alguém com pressa de tirar os olhos desta maravilha? As insistentes buzinadelas são uma forma de partilhar o entusiasmo e de suscitar a atenção dos distraídos.)



2) Esta já não é para automobilistas: as tílias também estão em flor! Está na hora de aspirar demoradamente o seu perfume nos lugares da cidade onde, mesmo que mutiladas, ainda algumas sobrevivem: Palácio de Cristal, Rotunda da Boavista, Parque de S. Roque, Praça da República, Cordoaria, S. Lázaro, etc.

Fotos: pva 0506

12/06/2005

Dos Jornais: Árvore de Camilo vai ser protegida

«Câmara quer transformar local num marco da passagem do escritor pela Maia - Na freguesia de Barca, junto à igreja paroquial existe uma árvore muito especial, uma vez que se pensa ter sido plantada por Camilo Castelo Branco. Um "louro cerejo", como é designado pela população, que vai ser protegido pela Câmara Municipal da Maia. Uma notícia que foi avançada pelo JANEIRO em 2002, mas que só neste Verão se deverá concretizar. » in O Primeiro de Janeiro
adenda
(julho 2007) Ler A Árvore de Camilo in maiacultura — maiacultura

Carta de Pavia

«A ribeira corre lá abaixo beijando os pés às casinhas brancas, humildes e pobres, espreguiçando-se ao sol... e àquele sussurro de água, têm maior amplidão os nossos sonhos e mais altas aspirações as nossas almas. As lavadeiras batem as roupas, as flores de eloendro caem com mumúrios abafados na água muito azul, e não sei se serão mais cor-de-rosa as suas pétalas se certas mãos delicadas que, dentro da água, torcendo o linho branco, fazem também lembrar pétalas suavíssimas de alguma grande flor desfolhada.»

Florbela Espanca, carta de 18 de Julho de 1916
(in Cartas e Diário, org. Rui Guedes, Bertand Editora, 1995)


Foto pva 0506 - Nerium oleander

11/06/2005

Da Realidade

Que renda fez a tarde no jardim,
Que há cedros que parecem de enxoval?

Miguel Torga, Nihil Sibi (1948)


Fotos pva 0505 - Cedrus atlantica - Parque de Serralves

10/06/2005

A árvore mais feliz do mundo

Bolseiro numa universidade do centro de Inglaterra de 1988 a 1991, a minha relação com esse país não foi de amor à primeira vista. Pelo contrário: a comida insípida, os hábitos de convívio em que não conseguia integrar-me, a própria paisagem das Midlands, ainda muito marcada pelas feridas da industrialização - tudo contribuiu para acentuar uma rejeição que nunca se dissipou por completo nos três anos da estadia.

Tudo o que via ou experimentava era filtrado pelo meu desafecto. Entre os defeitos que não me cansava de comentar avultava o gosto britânico pela hipérbole: a desfaçatez com que se proclamava que um tal museu era o melhor do mundo, a loja de discos em Oxford Street a maior do mundo, a inenarrável combinação de fish & chips o mais delicioso prato do mundo, e por aí fora. Que mundo tão pequeno o deles, tão virado para o umbigo!

Mas o afastamento e o passar dos anos foram matizando essas impressões; e, a cada curto regresso, em férias ou em trabalho, ia-se revelando um país que se mantivera misteriosamente oculto durante os meus anos de residência. Abriram-se-me os olhos para o encanto da paisagem ordenada: os prados bordejados por sebes e maciços de grandes árvores; as povoações, com as torres em agulha das igrejas, aninhadas em espessos mantos de um verde acolhedor; os bairros de tijolo vermelho com os pequenos jardins invariavelmente primorosos. Todo o país parece partilhar o gosto pelo ar livre e o apego à terra. Ainda que sem rasgos deslumbrantes, esta paisagem é produto de milénios de civilização e de uma evolução sem rupturas, testemunha de um bom senso que se diria inato na domesticação humanizada do território.

Fui percebendo que sob o humor omnipresente dos britânicos palpita um orgulho afectuoso pelas pequenas e grandes coisas que fazem a identidade do país; e é à luz desse humor, desse afecto recatado, que se devem entender as proclamações grandiloquentes que chocaram a minha ressentida ingenuidade. Seria ridículo, para o temperamento britânico, declarar em público o amor desmesurado que na verdade sente pelas suas coisas; e a saída é dizer, meio a brincar, que elas são as melhores do mundo. Que o sejam ou não importa-lhe muito pouco.

[Como seria bom se em Portugal houvesse o mesmo apreço pelo que marca a nossa identidade. Quem dera, por exemplo, que tivéssemos orgulho na melhor calçada portuguesa do mundo ou nos mais bonitos canteiros floridos do mundo. Mas não: liderados por arquitectos provincianos, escondemos envergonhadamente o que é nosso para, como no tempo de Eça, nos vestirmos pelo figurino de Paris.]

A que propósito vem este arrazoado? É que, depois de anos de ausência, voltei a Inglaterra. Desta vez fiquei por Londres, onde o prato forte foram dois dias de visita aos Kew Gardens, o melhor jardim botânico do mundo. Neste caso a hipérbole é perfeitamente credível, mesmo para o visitante que desconheça o trabalho científico que faz destes 120 hectares na margem sul do Tamisa muito mais do que um diversíssimo mostruário de plantas. O que de imediato salta à vista é a pujança das árvores: acarinhadas, com amplo espaço para espreguiçarem as suas ramadas, plantadas em alinhamentos de efeito cénico deslumbrante ou isoladas para melhor se mostrarem - são sem dúvida as árvores mais felizes do mundo. Mais do que feliz, a árvore da foto - um castanheiro-da-Índia de uma espécie originária dos Himalaias (Aesculus indica) que nunca vi em Portugal - estava ridente ao sol da manhã, com as suas flores como velas acesas a pontilhar de rosa pálido a rotundez da copa. A sua visão mais do que compensou o meu desapontamento por já ter passado o auge da floração das azáleas e rododendros.

Fotos: pva 0506 - Aesculus indica - Royal Botanic Gardens, Kew

09/06/2005

Dias sem árvores

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Ler "Saudades do Marquês" no Dias sem Árvores
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Flor de Jacarandá

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0506- Flor de Jacarandá

Por cá os jacarandás também começaram a florir mas nada que se compare com o que se passa mais a Sul!

Resolução do exame



Fotos: pva 0505 - Leptospermum scoparium

08/06/2005

Vassoura florida

Aproxima-se no país a época dos exames. O Dias-com-árvores associa-se ao momento de estudo e reflexão deixando aqui o enunciado da sua prova de fim de ano lectivo. Ao leitor é pedido que faça um desenho fiel da planta, originária da Austrália e Nova Zelândia, que a seguir se descreve; confirmará amanhã se descodificou acertadamente as nossas indicações.

Trata-se de uma mirtácea em flor, do género Leptospermum, espécie scoparium, variedade "Fascination". Não é mais do que um arbusto semi-lenhoso muito ramificado, com uma copa densa que faz lembrar as giestas. O tronco é escuro e lascado, com ramagem erecta. As folhas são alternadas, elípticas, semelhantes às dos metrosíderos mas umas oito vezes menores.

As flores de cor rósea são dobradas e vistosas pela forma enrodilhada como as pétalas se dispõem. Os estames são numerosos mas, ao contrário o que é usual entre as mirtáceas, passam quase despercebidos, embora se penteiem como franjinhas à frente de cada uma das pétalas. As flores, solitárias, organizam-se em inflorescências axilares cilíndricas como as que apreciámos nos Callistemon.

As cápsulas das sementes são duras, castanhas como se feitas de madeira, e têm formato de minúsculas malgas - com tampas, fabricadas pelas sépalas, que são como barretes de cardeal com pompom; permanecem nos ramos até que o fogo as abra e se libertem as sementes.

Podem conversar durante o exame. Em caso de azar ou mau desempenho, terão a oportunidade de uma segunda chamada.

07/06/2005

Ao longe a melaleuca em flor...

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Melaleuca linariifolia em socalco adjacente ao Jardim das Virtudes, vista da "Alfândega".
Fotos: mdlramos 0506
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06/06/2005

Dos Jornais - requalificação da avenida dos Aliados na Assembleia, amanhã

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«A sessão extraordinária da Assembleia Municipal (AM) do Porto, destinada à discussão do projecto de requalificação da avenida dos Aliados, foi adiada para amanhã (...) A nova avenida, em granito, terá passeios mais largos e a placa central mais estreita. O desenho prevê ainda o desaparecimento dos canteiros de flores e da calçada à portuguesa, o que constitui, até ao momento, o principal motivo da contestação ao projecto. A presença de Siza Vieira na Assembleia Municipal poderá, amanhã, contribuir para esclarecer as muitas dúvidas que têm sido colocadas em relação ao futuro da avenida dos Aliados.» Ler notícia completa no Comércio do Porto

Há dúvidas que não são dúvidas, são pura e simplesmente perguntas. Quem é que explica como é que as obras avançaram do modo como avançaram sabendo que existe na Avenida um conjunto de imóveis considerados de valor concelhio e classificados de interesse público, beneficiando por isso do perímetro de protecção de 50 metros previsto pelo artigo 43º da Lei n.º 107/2001? (Não sabia? então leia aqui o rol desses edifícios). Isto para não falar no que parece evidente: o valor patrimonial da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade (que pelos vistos se encontra "em vias de classificação" desde 1993). Se para estes senhores, esta zona da cidade não tem valor patrimonial, então nada tem esse valor (provavelmente apenas as suas próprias obras!)

Como comentou aqui ABG: «Para quê mexer no que está bem? Este, como a Boavista, é outro caso em que só se faz porque o dinheiro é barato e dos outros (fundos atribuídos ao Metro pelo OGE, CE, BEI), como se não houvesse um custo de oportunidade, como se não houvesse custos. Mas estragar o que lá está só para mostrar serviço, está para lá da minha compreensão. (...)»
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A selvajaria nos centros históricos

«A Primavera torna-nos buliçosos. Apetece-nos percorrer o país. Os campos estão verdes e floridos e a água transborda nos ribeiros.(...) Gostamos desta terra que desde sempre escolhemos para ser a nossa terra. Pelo caminho revisitamos velhas catedrais e saboreamos o seu silêncio de cera e pó antigo que as rosáceas alumiam.

Por isso nos irritamos com a selvajaria que vem tomando conta de alguns centros históricos. As nossas cidades estão a ser assaltadas por um bando de Hunos que a troco do vil metal vendem a alma ao diabo. Não é apocalíptico dizer que em Portugal se estão a cometer crimes de lesa-cultura de uma brutal insensibilidade.(...) As instituições públicas vão-se servindo de arquitectos mais desejosos de imporem o seu nome do que predispostos a interpretarem com responsabilidade e imaginação as sugestões urbanísticas, interrompendo o que a intuição e o bom gosto haviam combinado ao longo de séculos.(...)

É certo que as aldeias e as vilas precisam de crescer e modernizar-se, mas que tenham de o ser à custa da destruição do património é revelador da incivilidade e sugere interesses privados que o poder económico erradamente impõe como expressão de democracia. Caríssimos. Um país não é um jogo da Lego. Um país nao se faz e desfaz. E como estou zangado, tenho dito.»

Manuel Hermínio Monteiro, in K, Maio de 1991

05/06/2005

"Malmequeres e amores-perfeitos"

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Vou à Festa de Serralves ...
Adoro malabarismo e não resisto a ir ver Girouette pour Jardins (às 10. 00 h.) pela Companhia Chant de Balles. À mesma hora há um workshop sobre plantas comestíveis "Malmequeres e amores-perfeitos" (será que também falarão da feijoa?)

Actualização: Definitivamente fiquei-me pelos "Malmequeres e amores-perfeitos" e deixei a girouette para mais tarde!
O Jardim das Aromáticas estava indescritível de beleza, e a lição*, bem, a lição foi de ver, comer e chorar por mais.
Comungámos, entre outras, pétalas de amores-perfeitos, de maravilhas, de cravinas, de flor de cebolinho e, claro, de capuchinhas, a favorita, com o picantezinho de rabanete.
E aprendemos um pouco sobre a comestibilidade de muitas mais flores: fiquei absolutamente rendida.
(*José P. Fernandes orientará um curso sobre este tema no dia 18 de Junho + informações aqui )

Espero também que a exposição no caminho que ladeia o prado, Folhas, flores e frutos, se mantenha mais algum tempo, para ver com mais calma. De qualquer modo parece que será em breve publicado um livro com este trabalho, o que é uma muito boa notícia.
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Rosas e cantigas

Eu hei-de despedir-me desta lida,
Rosas? - Árvores! hei-de abrir-vos covas
E deixar-vos ainda quando novas?
Eu posso lá morrer, terra florida!

A palavra de adeus é a mais sentida
Deste meu coração cheio de trovas...
Só bens me dê o céu! eu tenho provas
Que não há bem que pague o desta vida.

E os cravos, manjerico, e limonete,
Oh! que perfume dão às raparigas!
Que lindos são nos seios do corpete!

Como és, nuvem dos céus, água do mar,
Flores que eu trato, rosas e cantigas,
Cá, do outro mundo, me fareis voltar.

Afonso Duarte (1884-1958)

04/06/2005

Nota crepuscular

Todos os dias se condena uma árvore sem julgamento. A árvore, rica de tudo, não tem dinheiro com que se defenda.
João de Araújo Correia, in Pó levantado (1970

Destaque - Avenida dos Aliados

A Avenida dos Aliados e o projecto de "requalificação":

  1. No Dias com Árvores .
ALIADOS (18-06-05)
Abaixo-assinado em defesa da Avenida dos Aliados (14-06-05)
O último Verão? (02-06-2005)
E o cócó, senhores? (11-05-2005)
Destaque- Campo Aberto (10-05-2005)
Dos Jornais - Assembleia quer discutir projecto dos Aliados (20-04-05)
Descubra as diferenças (13-04-05)
"Será de ficarmos calados?" (23-03-05)
Sizentismo (16-03-05) .......

  1. No Campo Aberto :
Abaixo-assinado em defesa da Av. dos Aliados (6/14/2005)
Dos jornais: Projecto da avenida dos Aliados já tem parecer favorável do IPPAR (6/10/2005)
Na Avenida dos Aliados as obras continuam (6/2/2005 )
Dos jornais: Construção no Porto ignora peões (6/2/2005 )
Duas notícias (5/31/2005)
Dos Jornais- Avenida dos Aliados (5/18/2005 )
O que terá a democracia a ver com telemóveis? (5/18/2005 )
Ladrilhos vs "sanpietrini" (5/13/2005 )
Dos jornais: Requalificação dos Aliados avança sem debate público (5/12/2005)
Controlar os ímpetos da autarquia (5/10/2005 )
Av. dos Aliados: carta dirigida ao Presidente da Câmara do Porto (5/9/2005 )
Av. dos Aliados: carta dirigida ao Provedor de Justiça (5/9/2005 )
Av. dos Aliados: carta dirigida ao IPPAR (5/9/2005 )
Comunicado da Campo Aberto (5/7/2005)
Quero, posso e faço! (4/13/2005 )
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Sobreiro - Monchique

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Sobreiro classificado de interesse público no Barranco de Pisões (Monchique) queimado nos fogos de 2003.

A propósito do chamado Projecto Cansino, projecto-piloto de reflorestação, patrocinado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em parceria com a Comissão Regional de Reflorestação do Algarve.
Ler: Apresentado projecto Cansino ; WWF lança plano de reflorestação em Monchique ; Fighting forest fires with cork in Portugal

03/06/2005

Festival Internacional de Jardins - Ponte de Lima

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É inaugurado hoje nos Campos de S. Gonçalo entre a Ponte Romana e a Ponte de Nossa Senhora da Guia na margem direita do Rio Lima.

«São objectivos do Festival contribuir a nível local, nacional e internacional para uma maior sensibilidade para a arte dos jardins e para o aumento da importância dos jardins e dos espaços verdes no incremento da qualidade de vida dos cidadãos, criando um movimento que aproxime as flores, as plantas e arte ao espaço urbano e simultaneamente uma força de conservação e enaltecimento dos valores paisagísticos ligados ao espaço rural.»

A qualidade do trabalho desenvolvido em Ponte de Lima na área dos espaços verdes e jardins, nomeadamente na sua zona ribeirinha (por onde se pode ter acesso pedonal à Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos), e o facto do projecto ser desenvolvido pelo gabinete do arquitecto paisagista Caldeira Cabral, leva-nos a ter esperança que este evento não se quede no aspecto superficial e festivaleiro e "se torne um projecto de verdadeira cidadania" (como muito sensatamente argumenta a experiente Jardineira)

Enquanto que em Lisboa são contrados arquitectos-paisagistas para encherem de flores as suas avenidas, no Porto, onde funciona um dos melhores viveiros municipais do País, aposta-se na sua erradicação dos próprios jardins e espaços históricos! Se não acredita veja aqui o andamento da destruição inqualificável (!) da Avenida dos Aliados e das suas zonas ajardinadas.
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A dois tons



Fotos: pva 0505 - floração de Melaleuca linariifolia e de Melaleuca armillaris

Se por estes dias se deparar com uma couve-flor gigante, talvez se trate apenas de uma Melaleuca em flor. Género da família Myrtaceae, conta com mais de 170 espécies de crescimento lento cuja maioria é endémica na Austrália onde prefere vegetar nas margens de cursos de água.

Exibem troncos papiráceos, como se feitos de mil folhas de papel sedoso, e copas formadas por pequenas agulhas aromáticas que se alinham ao longo de ramos flexíveis. As flores brancas, de estames exuberantes e pétalas inconspícuas, agrupam-se em novelos ou espigas que são em geral mais macias que as dos Callistemon, com os quais de resto é fácil confundi-las. À floração segue-se a produção de cápsulas de madeira que guardam as sementes minúsculas até que um fogo ou a morte próxima da árvore estimulem a sua disseminação.

A designação do género resulta dos termos gregos melas, que significa negro, e leukos, branco, referindo-se presumivelmente à cor escura do ritidoma e à nuvem de estames claros que cobre a copa na época da floração.

02/06/2005

O último Verão?

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Alarmada com a ideia de que poderia ter começado a "destruição inqualificável", foi com enorme alívio que verifiquei que, à Praça, apenas chegou o Verão!


Na Praça da Liberdade tudo está ainda no mesmo sítio: a estátua, a calçada branca, as esplanadas, as árvores, os canteiros (agora com petúnias). Em breve será a vez dos ligustros florirem.


O ardina continua ao pé das magnólias e, ao contrário dos engraxadores, não espera clientela.
Na florista já se vende manjerico e hortelã.
Na baixa vive-se o encanto das primeiras manhãs de Junho!




Entretanto, no alto da Avenida a "requalificação" continua bem ao estilo do "quero, posso, faço!".
Relembre aqui como era antes. Realmente não se entende que se queira destruir tudo isto!
Não acreditamos e não nos conformamos: este não pode ser o último Verão!.

Ver estado actual das obras
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