31/07/2005

Revista dos blogues

Hiato Cítrico - O Cheiro dos Limões no h(i)ato
Não ter um pé de flor à porta n' O Rabo do Gato
Zambujeiro em Um Amador da Natureza
flores secas no Casa dos Miados
As alfarrobeiras no Absorto
Julho no Sargaçal
murta no Outsider

(inicia-se uma nova rubrica no Dias com Árvores, com esta revista - sem periodicidade bem definida- dos blogues, apontando para uma selecção de posts relacionadas com... árvores ou outros assuntos que tenham a ver com jardins e afins ;-) Toda a colaboração é bem-vinda! Agradecemos que as eventuais sugestões sejam enviadas para o nosso mail!)
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"Arde o fogo segundo a lenha do bosque"

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Todos os anos a mesma tragédia! (Ler o que aqui se escreveu há um ano.)

No entanto, apesar de ser verdade o que diz o provérbio, também cada vez é mais evidente o papel dos incendiários (e da sua impunidade) nesta tragédia! Segundo uma notícia do dia 23 sobre a "encarceração" de um "presumível autor de fogo na Reserva da Arrábida" o número de detidos por fogo posto (60) é bem superior ao avançado (32) pela notícia de que se transcreve abaixo algumas linhas. E ontem, num noticiário qualquer, ouvi que a maior parte dos detidos eram penalizados (quando o eram) de um modo irrisório!

«Portugal é, de longe, o país da Europa onde se regista o maior número de incêndios em relação à superfície florestal (...)
O número de incêndios florestais contabilizados este ano quase duplicou, face à média dos últimos quatro anos.(...)
Segundo dados da DGRF, o uso do fogo foi responsável por 36 por cento dos fogos florestais de 2004. As causas acidentais explicam 15 por cento dos incêndios do ano passado. A negligência foi, assim, responsável por 51 por cento dos fogos. As causas naturais e as estruturais justificam seis por cento do total. O "incendiarismo" é a causa de 43 por cento dos fogos. Até 28 de Julho, a Polícia Judiciária deteve 32 suspeitos de atearem incêndios.» (reportagem na edição impressa do Público)

30/07/2005

...arvoar, arvorar, árvore, arvoredo...

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«...arvoar, arvorar, árvore, arvoredo...» no Dicionário etimológico da língua portuguesa: com a mais antiga documentação escrita e conhecida de muitos vocábulos estudados - José Pedro Machado.- 2.ed.- Lisboa : Livros Horizonte, 1967.
Há livros assim, que nos completam. Graças a homens como este, que não se esquecem!

+ Em Memória de José Pedro Machado (1914-2005) +
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29/07/2005

Na cidade, entre quintas


Foto: pva 0411 - Casa Tait com o edifício do Museu Romântico em fundo

A visita não começa bem. Logo ao cimo da rua de Entre-Quintas, um sujeito ao volante, de bigode ralo e óculos escuros, interpela-me:

- Ó amigalhaço, esta rua lá ao fundo tem saída?

- A rua não tem saída e eu não sou seu amigalhaço.

(Fim de conversa.)

(Não tem saída: continuemos, que o homúnculo já deu meia-volta.)

É uma rua tortuosa, íngreme e estreita, sombreada pelas grandes árvores atrás dos muros. A dada altura, entre dois portões, a via afunila-se e um meco de granito impede a passagem aos automóveis. A rua quase não tem trânsito: podemos lá andar despreocupadamente, como no tempo antigo em que as cidades se percorriam a pé sem termos que nos colar às paredes. Dos dois portões, o da esquerda conduz à Quinta da Macieirinha por uma rampa bordejada de camélias; o da direita abre para os jardins e mata da Casa Tait. Construída em meados do século XIX, esta casa pertenceu a William C. Tait e aos seus descendentes até 1978, ano em que passou a ser propriedade municipal.

William C. Tait, como se comprova pelo texto que escreveu sobre a lagunária para o Jornal de Horticultura Prática, foi, como muitos outros ricos proprietários no Porto do seu tempo, um amador de horticultura que gostava de experimentar novidades. Embora fosse improvável encontrar lá hoje uma lagunária - pois, além de esta não ser uma espécie longeva, o jardim sofreu entretanto várias amputações -, não quis deixar de o verificar. Claro que não a havia, mas todo o pretexto é bom para reentrar naquela mata: árvores como torres a resguardar o denso sub-bosque de camélias, o restolhar da vegetação rasteira por melros saltitantes, pássaros a cantar ao desafio. Carvalhos, faias, teixos, tílias, magnólias, castanheiros, áceres, tulipeiros: quase todos excedem em muito as suas medidas vulgares, aproveitando o semi-abandono que permitiu também a invasão da hera e da erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis).

Em contraste com a solenidade recatada da mata, e depois de se atravessar uma alameda de venerandas camélias, abre-se, a sul da casa, um patamar soalheiro voltado para o Douro: uma sebe de ligustros, canteiros desenhados a buxo, laranjeiras, eucaliptos-de-flor, plátanos, camélias sasanqua e uma magnólia-de-Soulange carregada de anos. Quase se diria que num século nada mudou - só as árvores, crescendo e morrendo, registaram a passagem dos anos - não fosse, no extremo poente, o aberrante parque de estacionamento construído em 2001.

P.S. A Casa Tait abre ao público aos dias úteis de manhã e aos fins-de-semana de tarde.

28/07/2005

Há um ano:
Jardim do Marquês- Porto
Nem pela sombra as perdoam

A mãe de todas as mirtáceas


Foto: pva 0507 - Myrtus communis - Jardim Botânico do Porto

A murta (Myrtus communis L.) é um arbusto lenhoso de folha perene e coriácea, emblemático da região mediterrânica. De crescimento lento, pode atingir idade provecta e em muitas regiões está associada a tradições e costumes. Na mitologia surge ligada à deusa Afrodite e as suas flores brancas com numerosos estames têm, em algumas regiões da Península Ibérica, presença obrigatória nos ramos de noiva ou em grinaldas honoríficas.

De folhas muito perfumadas, a essência de murta é ingrediente de quase todos os perfumes e cosméticos. É ainda frequentemente usada em misturas de tomilho e rosmaninho para aromatizar alimentos e os frutos, bagas de cor azul violáceo, intervêm na confecção de aperitivos, cervejas, licores, vinagres, geleias e compotas.

Esta lista resumida de variadas utilizações, medicinais e ornamentais, da murta dá conta da sua importância nas regiões onde é endémica e vulgar (communis). A família Myrtaceae - a que pertencem, entre muitos outros, os géneros Callistemon, Corymbia, Eucalyptus, Eugenia, Acca, Leptospermum, Melaleuca, Metrosideros, Psidium e Syzygium - deve-lhe a designação.

27/07/2005

Os jardins dos Aliados

O ulmeiro da Cordoaria #1

Na sua última crónica, Germano Silva traça-nos a história do espaço onde actualmente existe o Jardim a que nos habituámos a chamar da Cordoaria e evoca o seu famoso ulmeiro, também ele "pertencente à história":
«(...) Com o seu jardim descaracterizado, maltratado, vilipendiado, a Cordoaria, vamos continuar a dizer assim, é, ainda, e sobretudo, uma página da história portuense. Porque a memória não se apaga.
O verdadeiro padrão dessa praça foi um "ulmus" famoso, uma curiosidade bairrista sem a expressão e o pitoresco de um monumento de verdade, mas ainda assim popular e venerando. Essa árvore velhinha, plantada em 1612 e que só morreu (de pé) mais de trezentos anos depois; que resistiu a muitos temporais e saiu incólume de um incêndio; que deu sombra e pousio a várias gerações; sofreu uma calúnia grave acusaram-na de ter cedido um dos seus mais possantes ramos para nele serem enforcados ladrões, bandidos e arruaceiros. Tudo mentira. Na chamada "árvore da forca" nunca alguém foi pendurado.
(continuar a ler

Claro que a leitura da crónica despoletou a lembrança de outros textos que falam sobre a histórica árvore e não perco a oportunidade os divulgar.
O facto de esse ulmeiro vetusto, desaparecido em 1986, ter ficado conhecido pela "árvore da forca" deve-se provavelmente à circunstância de realmente se ter procedido nas suas imediações à execução de sentenças em que os condenados eram enforcados, e eventualmente também à própria forma das pernadas que iam sobrevivendo e do tronco.
Ainda em 1984, ou seja dois anos antes de este ulmeiro quadricentenário perecer, Ernesto Goes repete essa ideia e escreve : «Ulmeiro do Jardim da Cordoaria , no Porto, com 6,80 m.. de P.A.P., sendo o mais grosso que conhecemos. Esta árvore é muito conhecida no Porto pela "árvore da forca", onde eram enforcados os condenados à pena capital, antes de esta ter sido abolida em 1840. Ainda hoje é bem visível o cadafalso, ou seja o patamar resultante do corte do tronco a 5 m. de altura de onde eram empurrados os condenados à morte. (...)»

Foi uma das primeiras 14 árvores classificadas de interesse público, logo em 1939, e uma das três que na cidade do Porto ficaram então ao abrigo desse estatuto, como já aqui se escreveu.

Em 1885, num texto em que resume a história desta árvore velhinha e todas as vicissitude por que passou, José Duarte de Oliveira Júnior, curiosamente, não fala de enforcamentos mas sim de decapitações e sugere que nesse Outono se colhessem algumas sementes «para por via d'elas, se perpetuar tão famoso vegetal, e que no dia 14 de Outubro de 1886 se disponham quatro destas árvores ao lado das quatro entradas principais do actual jardim, increvendo-se, próximo de cada uma essa data sanguinolenta: 14 de Outubro de 1757.» e acrescenta:
«Agora, não; porém, mais tarde, a história ocupar-se-á dessas vergonteas que são prolongamento da vida de um ser que bem do alto observou o que as gerações actuais comentam por diversas formas.
Enquanto esse colosso vegetal viver, enquanto ele tiver um único sinal de vida, cuide-se dele como de um enfermo que bate às portas da morte, como do parente extremoso que está próximo de exalar o derradeiro suspiro, e mesmo depois de morto conserve-se ali o seu tronco, considerando-o uma relíquia da cidade; mas hoje coloque-se-lhe ao lado um lápide com esta singela inscrição:

"Árvore da Liberdade
Nasceu em 1611
viu decapitar muitos inocente
e vive ainda em fins do séc. XIX
rodeada dos carinhos de um povo culto."
Os povos têm hoje amor pela tradição, e é necessário repeitá-la.»
Duarte de Oliveira Júnior in "A Árvore da Cordoaria"- "Chronica horticola-agricola", Jornal de Horticultura Prática, Vol. XVI, 1885 (p. 58)

26/07/2005

A Quinta de Marques Gomes revisitada

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Já neste blogue por diversas vezes se falou da Quinta de Marques Gomes, "uma das últimas zonas verdes com dimensão e significado na Área Metropolitana do Porto":
Dos jornais: a Quinta de Marques Gomes (Gaia) (28.12.04)
Visita à Quinta de Marques Gomes (10.2.05)
Dos jornais - ainda a Quinta de Marques Gomes (14.3.05)

Hoje, propomos uma nova visita ... aérea aqui e saudamos o Castelo de Gaia
- "Um Blog sobre a outra margem do Douro. Para lá da imagem... "
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Cancioneiro popular - peras

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«Eu gosto muito de peras
Sendo elas cabaçais
Gosto do nome de António
De Joaquim muito mais.

Eu gosto muito de peras
Sendo elas de Amorim.
Gosto do nome de António
Muito mais de Joaquim.

Pereira, dá-me uma pêra.
Ó silva, dá-me uma amora...
Meu amor, dá-me um abraço,
Que me quero ir embora.»

Cancioneiro popular -pêra ; Peras vingues
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Variedades de peras

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A propósito da notícia Menos pêra no mercado... aqui se recordam os nomes de algumas variedades de peras, muitas delas fora de moda ;-)

«almirante, amorim, baguim, bergamota, bernarda, boazinha, bojarda, botelha, bravo-de-mundão, cabaçal, carapinheira, carril, carvalhal, codorno, colmar, come-e-cala, conde, coxa-de-dama ou coxa-de-freira, doçal, domingas, dona-joaquina, durante, engana-rapazes, flamenga, figueiroa, formiga, gronho, lambe-lhe-os-dedos, leitoa, maria, maria-antónia, marmela, marquesa, marquesinha, moscatel, pé-de-perdiz, pêra-de-arrátel, pêra-de-bom-cristão, pérola, pigarça, pipo, presunto, rabita, rainha, restolho, rinchão, rio-frio, rocha, sanguínea, santiago, santo-antónio, são-bernardo, são-martinho, são-miguel, saramenho, selecta, sete-cotovelos, sorval, sorvete, três-em-prato, torrão-de-açúcar, virgulosa»


as minhas favoritas...

25/07/2005

Mirem-se no exemplo


Foto: pva 0507 - flor de Eucalyptus sp. - Parque da Cidade, Porto

AGAINST IDLENESS AND MISCHIEF

How doth the little busy bee
Improve each shining hour,
And gather honey all the day
From every opening flower!

In works of labour or of skill
I would be busy too;
For Satan finds some mischief still
For idle hands to do.

Isaac Watts, Divine Songs for Children (1715)

24/07/2005

Lagunaria patersonii


Fotos: mdlramos/pva - Lagunaria patersonii no Parque de S. Roque e no jardim da CCRN, Porto

«Consegui há dous annos obter de sementeira uma d'estas arvores indigenas de New-South Wales e Queensland, na Austrália, interessantes principalmente por serem próprias para plantações à beira-mar. Segundo o catálogo dos snrs. Anderson & Cª. esta pequena arvore é uma das que melhor supporta as brizas do mar as quaes parece mesmo procurar, inclinando-se para o lado do mar, em vez de o fazer para o lado opposto como acontece com a maioria das outras arvores. Diz o snr. J. Maiden, de Sidney, que a altura da Lagunaria patersonii varia entre 12 a 18 metros com um diâmetro de 45 a 80 centímetros. A madeira é branca com veia fina, é facilmente trabalhada e emprega-se na Australia na construção de casas. Da casca, por meio da maceração, extrahe-se uma fibra fina e muito bonita. O snr. Charles Naudin, director do Jardim Botânico e de acclimação de Villa Thuret Antibes, escreve-me que esta espécie dá uma bonita arvore perfeitamente adaptável ao Sul de França, produzindo alli flores parecidas com as do Hibiscus.

A planta que eu tenho soffreu muito com os frios no inverno de 1888, perdendo bastantes folhas, mas quando veio o tempo quente, na primavera, deitou novos rebentos e reviveu completamente. Em dezembro do anno passado quando o frio apertou tornaram-lhe primeiro a murchar e depois a seccar completamente quasi todas as folhas. Quem a vir agora julga-a condemnada, mas depois de se saber como ella reverdeceu no fim do inverno de 1888 tem motivo de esperar que ella este anno faça outro tanto. Parece fora de duvida porém que para o clima do norte de Portugal é um pouco delicada, soffrendo muito com as geadas. É portanto mais própria para o clima de Lisboa e Sul de Portugal. Tem sido introduzida com bom êxito em Adelaide South Australia, localidade onde o clima é bastante parecido com o do Sul de Portugal. Temos entre nós verdadeiramente próprias para plantar à beira-mar muito poucas plantas além do Myoporum, Tramagueira e do Pinheiro bravo; a introducção de uma outra arvore própria para tal fim não deixará de ser vantajosa.

A Lagunaria tem um bello porte e folhagem lindíssima. A cor das folhas é glauca como a da maior parte das plantas da beira-mar e nisso differe muito da folhagem do Myoporum que é verde escura e luzidia. Estou tentanto a reproducção da Lagunaria por estaca e a avaliar pelo estado actual das estacas parece-me que o conseguirei.»

Guilherme C. Tait, Jornal de Horticultura Prática, 1890

23/07/2005

Cancioneiro popular - pinheiro # 2

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Praia de S. Rafael ao fim do dia (Agosto 2003)
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«Alto pinheiro ramudo,
Na ponta pinhas de prata;
Ter amores não me custa,
Deixá-los é que me mata.»
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22/07/2005

A tragédia!

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«Incêndios cortam comunicações, isolam povoações e obrigam a evacuar aldeias (...

«O país foi de novo fustigado pelas chamas. Ao início da noite doze incêndios estavam por circunscrever às 19h33 em oito distritos de Portugal Continental, de acordo com o último balanço do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC). Os distritos afectados eram Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Portalegre, Vila Real e Viseu. (...) »

«Na primeira quinzena de Julho os incêndios queimaram mais de 17 mil hectares de floresta, elevando para 38.518 hectares a área destruída pelo fogo desde o início do ano, segundo o último relatório da Direcção-Geral das Florestas (DGF).Até 17 de Julho, os maiores valores de área ardida registaram-se nos distritos do Porto (6.061 hectares), Viseu (4.226 hectares) e Viana do Castelo (3.589 hectares).Em 2004 a área total ardida atingiu cerca de 120 mil hectares, segundo a Direcção-Geral dos Recursos Florestais.Em 2003 o fogo queimou 425 mil hectares, a maior área total destruída pelos incêndios nos últimos 20 anos. (...
Foto reproduzida de O Primeiro de Janeiro

O mistério adensa-se


Como a malvadez ou a simples inconsciência têm uma criatividade ilimitada, nunca uma lista de proibições será exaustiva, nunca um regulamento estará completo. O negócio de interpretar leis, suprir lacunas de um articulado, estabelecer analogias e invocar precedentes há-de ser sempre actual e lucrativo.

Por exemplo, o Regulamento Municipal de Espaços Verdes do Porto (RMEVP) não contém as seguintes regras:

  • As árvores devem ser plantadas com as raízes enterradas no chão e a copa virada para cima.
  • As árvores devem ser plantadas com os seus troncos na vertical, não sendo admitidos desvios superiores a cinco graus em relação à linha de prumo.
Dir-se-á que tais preceitos são desnecessários, uma vez que emanam do mais elementar bom senso; e que, se o RMEVP descesse a tais minúcias, atingiria um volume desmesurado. Mas não é que às vezes o bom senso precisa de ser vertido em regulamento? Considere-se, por exemplo, a seguinte regra, também ela ausente do RMEVP:

  • Não se deve plantar uma árvore debaixo de outra já existente no mesmo local, se a nova árvore for de tal porte quando adulta que as copas das duas iriam inevitavelmente colidir.
Pois esta regra, tão óbvia para quem sabe como as árvores crescem e não tem a vã ambição de reproduzir na cidade o caos esplendoroso de uma floresta virgem, foi, como ilustra a foto em cima, flagrantemente ignorada no caso dos plátanos da Av. da Boavista. A conclusão optimista, embora patética, é que a regra afinal fazia falta, e é melhor incluí-la numa próxima versão do RMEVP.

Mas em que ficamos se a própria Câmara desrespeita o actual regulamento? É que nos chegou inesperadamente às mãos a sua versão final, e pudemos verificar que ela acolhe algumas das sugestões enviadas durante a discussão pública. Leiam-se os parágrafos 14.3 e 14.4 do Anexo I:
  • As caldeiras das árvores devem apresentar uma dimensão mínima de 1 m2, no caso de árvores de pequeno e médio porte e de 2 m2 no caso de árvores de grande porte (...).
  • Em ruas estreitas e em locais onde a distância a paredes ou muros altos seja inferior a 5 m, só se devem plantar árvores de médio e pequeno porte, ou de copa estreita.
Para que conste: os plátanos são árvores de grande porte e de vastíssima copa; os passeios da Av. da Boavista têm 2 m de largura; e a área de cada caldeira não ultrapassa 1 m2.

A Câmara aprova regulamentos sem intenção de os cumprir? Ou, encandeados pelo refulgente prestígio do dream team, os técnicos camarários inibiram-se de rectificar estes erros de palmatória?

Foto: pva 0507 - plátano a furar a copa de um pinheiro-manso - Av. da Boavista, Porto

21/07/2005

Pinheiros mansos monumentais

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Pinheiros mansos (Pinus pinea) monumentais na mata da Quinta de Santo Inácio em Fiães (Avintes- Vila N. de Gaia)
«Pinheiros Mansos
Estamos no local do antigo jogo de croquet. Antigamente este local era circundado de uma bordadura em granito e tinha junto uma fonte de água fresca. Não existem vestígios deste local de jogo mas os antigos pinheiros mansos aí estão, cada vez maiores.
A este propósito uma carta datade de 1800 faz-nos pensar que estas árvores poderão ser descendentes de uma plantação dessa época. Diz essa carta, assinada pelo Superintendente e Conservador da Marinha Real, que: "Pedro van-Zeller tinha um pinhal com mais de 50 anos que estava ferido por grandes pedras lançadas pelos rapazes para deitarem abaixo as pinhas carregadas de pinhões. Por esse motivo solicitou licença para o deitar a abaixo e semear um novo no mesmo local"»


(Pinheiros a salvo? Nem estes! Hoje no nosso país a arder não está nenhuma árvore a salvo. E quem diz árvore, diz bicho, diz pessoa! Viver no campo, na serra, perto de uma bouça ou de uma mata é estar em perigo de vida. Quantos por esse país fora com o coração nas mãos! )
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Adenda:
TERRORISMO AMBIENTAL - DIA DE LUTO PELAS FLORESTAS
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20/07/2005

Ligações desejáveis

Cidades Sustentáveis - Cidades Mais Verdes
Europa Nostra -A Nova carta de Atenas

Via bioterra em UM PAÍS INSUSTENTÁVEL
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De veludo


Fotos: pva 0507 - Rhus typhina - Jardim Botânico do Porto

Tal como a árvore-de-fumo, este arbusto norte-americano de folha caduca pertence à família Anacardiaceae que contém ainda, entre outras, as espécies que produzem o pistácio, a castanha-de-cajú e a manga. A Rhus typhina pode atingir 5 a 6 metros de altura e distingue-se bem pelas folhagem cujo hábito pendente faz lembrar longas pestanas e ganha uma coloração rubra-laranja no Outono; ou então pelos frutos sumarentos que nascem no Verão em drupas cónicas, vermelhas e peludinhas, nas extremidades dos ramos dos exemplares femininos, e se dispõem na copa hirtas como chifres de veado (de que resulta o nome comum inglês, staghorn sumac); lá permanecem até depois do Inverno, adquirindo progressivamente um tom ferruginoso. A polpa destes frutos é usada em bebidas refrigerantes.

As folhas são imparipinuladas com 11-31 folíolos lanceolados e de bordo serrado, pubescentes na face inferior e com uma ponta acentuada. Os ramos, pecíolos e as flores são também revestidos de penugem. Esta espécie é dióica, mas as flores masculinas (com o pólen) e as femininas (que dão sementes) assemelham-se: são pequeninas, amarelo-esverdeadas, agrupadas em inflorescências densas.

O nome comum, sumagre-da-Virgínia, refere-se ao uso em medicina e tinturaria de partes de outra espécie do género Rhus, a coriaria, conhecida como sumagre (termo de origem árabe).

19/07/2005

Dos jornais- "Um jardim em Loulé "

(Crónica de Miguel Ramalho no Expresso)

«Li, há dias, no "Público", que o antigo jardim de Charles Bonnet, em Loulé, ia dar lugar a uma urbanização e que, de acordo com a declaração do presidente da câmara, para "compatibilizar o interesse público com o privado", foram exigidos duzentos lugares de estacionamento público na cave do edifício. Resta dizer que a decisão de eliminar o jardim foi tomada por unanimidade.
Bonnet foi um dos pioneiros da Geologia portuguesa, tendo desenvolvido estudos geológicos, geográficos e biológicos, em especial na região algarvia, tendo-se radicado depois desse trabalho em Loulé, onde casou e morreu no final do século XIX. Na sua propriedade, criou um jardim botânico, o qual, nestas últimas décadas, esteve votado ao abandono.

(...)
Então, as vilas e cidades do Algarve não estão repletas daqueles inúteis jardins? E Loulé não está tão cheio de espaços verdes que as pessoas se perdem lá mais facilmente que na Amazónia, além de ter, a dois passos, o Estádio do Euro 2004, e que está sempre a abarrotar de público a gozar o seu utilíssimo relvado? E ainda queriam mais verde? Era o que faltava! A câmara decidiu assim, sabiamente, ao optar por uma urbanização - que até talvez se venha chamar Jardim de Bonnet Residence - tão raras no Algarve, e que tanta falta lhe fazem...
(...)

Embora este seja um caso aparentemente banal no nosso país, em que valores patrimoniais únicos não são considerados importantes face ao imobiliário, constitui, no entanto, um indiscutível sintoma de falta de sensibilidade e de cultura que ainda grassa por entre aqueles que têm o poder de decidir e de influenciar a nossa qualidade de vida, que, frequentemente, não têm preparação para isso.
Tenho verificado que, felizmente, há cada vez mais autarcas que se preocupam com este tipo de problemas. Pergunto-me, no entanto, como é possível hoje, na Europa do século XXI, e numa região gravemente atingida pela massificação imobiliária e que aspira, dizem eles (...), a um turismo de qualidade, ainda existirem autarcas que votam, por unanimidade, a troca de um jardim histórico por lugares de estacionamento? Espero, ao menos, que um dia venham a ter vergonha do que fizeram.»

Ler texto completo (no Expresso)

Segundo as notícias a destruição do jardim e das espécies parece que já se consumou :
«Ambientalistas denunciam arranque de árvores para construir estacionamento
A associação ambientalista Almargem denunciou hoje o arranque, nos últimos dias, de dezenas de árvores e várias espécies de arbustos do chamado Jardim do Boné, para construir um parque de estacionamento "e mais uns quantos lotes de apartamentos". (12-07-05)»

ler notícia (in rtp.pt)

Almargem contra destruição do jardim de Charles Bonnet (no Jornal do Algarve)

(obrigada pela chamada de atenção ao desNORTE)
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Adendas:
1- Em 14 de Julho, Pedro A.Vieira no Estrago da Nação já tinha lançado a sua Farpa Verde escrevendo: «Viva a memória, viva este país vergado ao betão e ao automóvel e que arrasa tudo o que tenha uma corzita verde. Eis o paradigma do século XXI da República de Portugal e dos Algarves. Um dia destes algum autarca ainda há-de lembrar-se de construir um "arvoreto".»

2- Destruído jardim de Charles Bonnet em Loulé [actualizado] (no Contrasenso em 18 de Julho)

3- Reconhecimento póstumo (no Raízes a 19 de Julho)

Kauri

Mencionámos aqui o triste destino da Agathis robusta do Jardim do Carregal. Felizmente, como já antes noticiámos, existe na Quinta de Villar d'Allen uma árvore adulta da mesma espécie; e recentemente, como ilustram estas fotos, foi plantado um exemplar no Jardim Botânico do Porto.

Uma espécie congénere desta, mas que nunca vimos em Portugal, é nativa da Nova Zelândia e é uma mais das volumosas árvores que se conhecem. Trata-se da Agathis australis - kauri em língua maori -, que teve um papel importante na colonização europeia dessas ilhas, iniciada no começo do século XIX. O seu valor económico e as razões da sua quase extinção são muito bem explicados na passagem que a seguir transcrevemos de um livro de viagens de 1873.

«Kauri gum - an article of trade found (...) only in the province of Auckland - is used in the glazing of calico, and as a cheap substitute for copal varnish in the preparation of furniture; and also, - if the assertion be not calumny, - for the manufacture of amber mouthpieces. (...) The kauri gum exudes from the kauri tree, but is not got by any proccess of tapping, or by taking the gum from the tree while standing. The tree falls and dies, as trees do fall and die in the course of nature; - whole forests fall and die; - and then when the timber has rotted away, when centuries probably have passed, the gum is found beneath the soil. Practice tells the kauri gum seekers where to search for the hidden spoil. Armed with a long spear the man prods the earth, - and from the touch he knows when he strikes it. Hundreds of thousands of tons probably still lie buried beneath the soil; - but the time will come when the kauri gum will be at an end, for the forests are falling now, not by the slow and kind operation of nature, but beneath the rapid axes of the settlers.

I was taken out from Auckland by a friend to see a kauri forest. Very shortly there will be none to be seen unless the searcher for it goes very far a-field. I was well repaid for my troubles, for I doubt whether I ever saw finer trees grouped together; and yet the foliage of them is neither graceful nor luxuriant. It is scanty, and grows in tufts like little bushes. But the trunks of the trees, and the colour of the timber, and the form of the branches are magnificent. The chief peculiarity seems to be that the trunk appears not to lessen in size at all till it throws out its branches at twenty-five or perhaps thirty feet(*) from the ground, and looks therefore like a huge forest column. We saw one, to which we were taken by a woodsman whom we found at his work, the diameter of which was nine feet, and of which we computed the height up to the first branches to be fifty feet. And the branches are almost more than large in proportion to the height, spreading out after the fashion of an oak, - only in greater proportions.

These trees are fast disappearing. Our friend the woodman told us that the one to which he took us, - and than which he assured us that we could find none larger in the forest, - was soon to fall beneath his axe.»


Anthony Trollope, Australia and New Zealand (1873)

(*) 10 feet = 3,048 metros


Apesar de a destruição ter sido massiva, os neo-zelandezes conseguiram ainda salvar parte importante desse legado. Em 1952, as florestas de Waipoua, Mataraua e Waima, a primeira delas com mais de 9000 hectares, foram instituídas como reservas naturais. Hoje o abate desses ancestrais kauris está proibido, e estão em marcha ambiciosos programas de reflorestação.

Sobre o autor do texto acima: o inglês Anthony Trollope (1815-1882), um dos mais populares romancistas da sua época, escreveu 47 romances, quase outros tantos contos, uma autobiografia e vários relatos de viagens. A resina de kauri, ou kauri gum, aparece também no seu romance The prime minister, publicado em 1876: Ferdinand Lopez, o mau da história, filho de pai português e desastrado especulador, compra um grande carregamento dessa resina na mira de uma valorização rápida que não chega a ocorrer.

18/07/2005

O renascimento do Jardim do Carregal

1) Na rua de Clemente Meneres, que circunda o Jardim do Carregal, prosseguem a reconstrução dos passeios e o asfaltamento da via. O lugar, recorde-se, vive há seis anos em estado de sítio, agravado ultimamente pelas malogradas obras de extensão do túnel rodoviário até à rua D. Manuel II. Com a próxima abertura do túnel, ainda que reduzido a uma saída, é natural que o trânsito à superfície seja desencorajado, e nisso o projecto para a zona é sensato, alargando os passeios e estreitando a faixa de rodagem. Mas há dois pormenores desagradáveis: os automobilistas, numa exuberante demonstração de falta de civismo, já se apropriaram dos novos passeios para estacionamento; e os quatro bordos (Acer campestre) recém-plantados no passeio do lado norte estão a secar. Embora não se conteste a escolha da espécie, estas árvores, à semelhança do que aconteceu com os plátanos da Av. da Boavista, foram plantadas na pior altura. Poderiam ainda assim ter sobrevivido se alguém cuidasse de as regar regularmente. A sua morte é o infeliz resultado da negligência e do mau planeamento.

2) Regressamos, a medo, ao Jardim do Carregal, jóia do Porto oitocentista a que os nossos contemporâneos não souberam dar melhor uso que o de estaleiro de obras. As árvores que lhe tiraram não serão substituídas, pois no lugar do solo onde vegetavam existe agora uma placa de betão que uma fina camada de terra mal disfarça. Outras árvores, poupadas à motossera, têm sucumbindo aos maus tratos: amputação de raízes, encontrões das máquinas, acumulação de entulho, terra ressequida por falta de rega. Todas as vezes que lá passamos actualizamos o obituário: depois da magnólia e das camélias, chegou a vez da Agathis robusta, árvore australiana que era uma das raridades do jardim; as folhas secas e a copa rala não deixam dúvidas de que foi tocada pela morte. Mas agora no jardim há finalmente sinais de esperança: as máquinas, os barracões, o entulho e a vedação de zinco foram removidos, o desgracioso edifício térreo que funcionou como anexo hospitalar será demolido, e não tarda iniciar-se-á a recuperação dos canteiros. Não poderíamos desejar melhor prenda de Verão: esperámos seis anos para que nos devolvessem o Jardim do Carregal.

Foto: pva 0507 - Acer campestre na rua de Clemente Meneres

17/07/2005

Provérbio

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"There are more trees upright than upright men."

Há um ano: Mo - Extremidade, fim
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Melaleuca cor-de-rosa


Foto: pva 0507 - Melaleuca nesophila - Jardim Botânico do Porto

«Pode ser falso dizer que uma árvore sente, que um rio "corre", que um poente é magoado ou o mar calmo (azul pelo céu que não tem) é sorridente (pelo sol que lhe está fora). Mas igual erro é atribuir beleza a qualquer coisa.»

Bernardo Soares, Livro do desassossego (Assírio & Alvim, 2001)

Outras melaleucas

16/07/2005

Olha a flor que vai abrindo...


Foto: pva 0507 - flores em botão de Corymbia ficifolia (ou Eucalyptus ficifolia)

... é a cor a chamar

15/07/2005

A "árvore vermelha" da rua Faria Guimarães

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Rua Faria Guimarães- Corymbia ficifolia em flor (julho 2004)

Mais uma árvore de fazer parar o trânsito ... E pare que vale a pena: encontra decerto lugar em alguma transversal desta rua (neste troço quase transformada em via rápida) para arrumar o carro; admire esta Corymbia ficifolia e aproveite para um passeio na Quinta do Covelo que fica logo à frente.



Conhecida por "eucalipto-de-flor-vermelha" ou "red flowering gum", esta mirtácea era classificada como Eucalyptus, até meados dos anos 90, altura em que foi incluída no género Corymbia então criado.

Fomos alertados por F.O. que há um "placard" de pedido de obras na casa à qual pertence. Vamos a ver o que conseguimos inquirir sobre o futuro que se reserva a esta bela "corímbia"!
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14/07/2005

ALIADOS - actualização

Michel Desvigne - paisagista e urbanista

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A propósito da seguinte passagem do texto de apresentação do II Congresso da SPA -"Conceptualmente, as áreas urbanas são, de uma forma crescente, áreas descontínuas e desgarradas entre si, o que dificulta a instalação e a manutenção do verde urbano na estrutura citadina." - lembrei-me de uma entrevista -para a qual JCarlos Marques chamou a nossa atenção no PNED- com o "paysagiste" Michel Desvigne (grande prémio de urbanismo 2003/França), publicada no Le Monde de 27.06.05 com o título de "Notre territoire est devenu laid, il n'est plus lisible".

Esta fealdade (e consequente impossibilidade de "leitura" da paisagem -quem consegue entender e usufruir uma paisagem desordenada, agredida, descontínua?) decorre, segundo MD do facto de serem as grandes infraestruras a modelarem, sem planeamento concertado, o território: «Ce sont désormais les infrastructures qui, de plus en plus, façonnent le paysage : autoroutes, entrées de ville, voies rapides, lignes à haute tension, TGV. Ces équipements sont le fait d'administrations qui semblent parfois obéir à des logiques antagonistes. Les technocrates et les politiques décident. »

Mas gostaria de destacar mais duas passagens da entrevista, a primeira das quais bem reveladora da grande sensibilidade e cultura de Michel Devigne que afirma que para os "paisagistas" não existem "páginas em branco":
«Je suis un explorateur, plutôt qu'un exportateur. Mon travail consiste d'abord à dresser un état des lieux. Les paysagistes ignorent le vertige de la page blanche. Un terrain vierge, cela n'existe pas. Lorsque nous intervenons, il y a toujours quelque chose de préexistant que nous sommes chargés de transformer ou de révéler. »
(Lamentável que os nossos arquitectos "urbanistas" declaradamente sintam esta vertigem da página em branco, como eu ouvi a um dos autores do projecto de "desqualificação" de uma das zonas mais emblemáticas da nossa cidade!!!! Caso gritante de autêntica "iliteracia urbanística" ;-(

Interessantíssimo também é o relato do projecto de desenvolvimento urbanístico com planeamento integrado de zonas verdes que Michel Devigne está a implementar em Bordeaux e as raízes que este género de intervenção encontra no trabalho de Frederick Law Olmsted (que aqui já referimos uma vez).
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"ÁRVORES URBANAS: RAÍZES NA CIDADE"

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«O conflito constante entre o desenvolvimento urbano e o ambiente reflecte-se de uma forma particularmente marcada no arvoredo. Conceptualmente, as áreas urbanas são, de uma forma crescente, áreas descontínuas e desgarradas entre si, o que dificulta a instalação e a manutenção do verde urbano na estrutura citadina. * As tensões intersectoriais entre os intervenientes nos espaços urbanos sentem-se de forma evidente na instalação de novas árvores e na protecção das existentes, durante as constantes mutações dos territórios urbanos. Também, a nível do solo onde tudo se passa sem ser visto e muito pouco sentido, as agressões mecânicas das raízes, a par dos constrangimentos no seu desenvolvimento pelo aumento da densidade do solo e da fraca difusão do oxigénio, fazem com que as consequências desta conflitualidade sejam especialmente gravosas.
Este II Congresso da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, com o tema: "ÁRVORES URBANAS: RAÍZES NA CIDADE", visa, uma vez mais, congregar os diversos sectores intervenientes no espaço urbano, estimulando os seus actores a criar as sinergias necessárias para o bem-estar social e melhorar a qualidade de vida das populações urbanas. No âmbito do Congresso terá ainda lugar, no dia 15 de Outubro, a realização de dois Workshops.»
in II Congresso da Sociedade Portuguesa de Arboricultura,
Vila Nova de Gaia, Parque Biológico,
13 a 15 de Outubro de 2005

(A pedido de amigos da SPA temos muito gosto em anunciar o seu II Crongresso)

13/07/2005

Há um ano: Pinheiro do Paraná #1 ; Araucária-do-Brasil sobrevivendo
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Lagerestroémias dos Jardins da Casa de Mateus

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Lagerstroemia spp. em flor - Casa de Mateus, Vila Real -Setembro 2003

A propósito de uma conversa que se vai desenrolando aqui, lembrei-me destes lindíssimos exemplares de lagerestroémias dos jardins da Casa de Mateus. Assim estavam esplendorosas ao sol nos canteiros bordados a buxo, sobre o fundo da notável sebe-túnel de Cupressus lusitanica.
No Porto já começaram a florir e assim se manterão até ao Outono.

Estas pequenas árvores têm qualidades ornamentais durante todo o ano e não apenas na época da floração de Julho a Setembro. No Inverno são particularmente interessantes a silhueta de ramos tortuosos, e as cores matizadas do tronco de superfície lisa, manchado de castanho, cinzento, rosa e cor de canela, devido a uma casca que, à semelhança do plátano, se fragmenta em placas.

Originária da China, já era cultivada na Coreia e na Índia antes de chegar à Europa em meados do século XVIII, graças ao botânico e coleccionador de plantas, o sueco M. Von Lagerström (1696-1759), Director da Companhia sueca das Índias orientais. Lineu ao baptizar o género de Lagerstroemiae homenageou este seu amigo que lhe enviava exemplares da flora da Índia. Daí a designação "indica" da espécie cultivada em Portugal para fins ornamentais, a Lagerstroemia indica, apesar de ser realmente proveniente da China.

Segundo um amigo (eng. silvicultor) que inquiri sobre o nome vulgar quando tirei estas fotografias há dois anos, em alguns catálogos a espécie aparece referida como "lagerestroémia", com o "aportuguesamento" do nome genérico latino (um processo aliás comum para designar espécies exóticas para as quais o nome vulgar não é ...vulgar), mas em certas publicações de divulgação vem referida como "flor-de-merenda" e "suspiros".
Num livro entretanto publicado, Portugal Botânico de A a Z (de Luís Mendonça de Carvalho & Francisca Fernandes), para além destas, aparece também a designação de "extremosa" e para a L. speciosa, "lagerestrémia", mas não "árvore-de-Júpiter" que parece ser uma denominação também corrente como o demonstra o facto de se encontrar em placas identificativas dos jardins (pelo menos em Guimarães -como nos lembrou MA , e em Leiria).

Outros nomes: à Lagerstroemia indica chamam os franceses "lilas des Indes" (nome por que também é conhecida nesse país a Melia azederach...), para além de "lilas d'été", "lagerose" e "fleur de mousseline". Esta última designação deve-se à forma ondulada das pétalas. O nome inglês de "crape myrtle" deriva não só deste aspecto frisado das inflorescências mas também do facto das folhas, de algum modo, se assemelharem às da murta.

12/07/2005

Rosa dos mares do sul



Fotos: pva 0507 - Hibiscus rosa-sinensis (1-3) e Hibiscus syriacus (4)

O HIBISCO
Cansado de servir de modelo
a uma legião de pintores,
transformou as anteras num pincel,
e na falta de guaches e de papel,
pincela com pólen amarelo
a cabeça dos beija-flores!

Jorge Sousa Braga, Herbário (Assírio & Alvim, 1999)

11/07/2005

"Abate de árvores na Baixa de Santo António- Aveiro"

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Foi criada uma Petição on-line para que as pessoas interessadas e "amantes da Natureza" se possam manifestar contra o abate gratuito de árvores na "Baixa de Santo António, espaço também conhecido como o Parque de Drink's, em Aveiro".
A justificação para o corte dessas árvores, pedido por alguns moradores ("* alguns ramos de árvore entram pelos quintais a dentro, sujando-os com pólen (de tomar em atenção que todos estes quintais têm vegetação no seu interior); * as árvores eram um abrigo demasiado tentador para os namorados que quisessem fazer daquele espaço o seu ninho de amor. ") e o facto da Câmara Municipal de Aveiro ter dado o seu aval, demonstra, para além de outras coisas, a falta de uma legislação sobre os espaços verdes urbanos digna de um país civilizado e/ou a devida fiscalização da aplicação da mesma, o que é decorrente aliás da grande ignorância que grassa relativamente ao benefício das zonas ajardinadas e das árvores nas cidades.

Força Wakewinha! E obrigada Formiguinha por através da Fábula nos teres vindo avisar!
Este é mais um infeliz caso para o Dias sem árvores!

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Carvalho clandestino



Fotos: pva 0505 - Quercus pyrenaica - Parque da Cidade do Porto

As árvores do Parque da Cidade do Porto não formam uma amostra representativa da flora portuguesa. Na escolha das espécies privilegiaram-se as ornamentais produzidas em grande quantidade em viveiros nacionais e estrangeiros - mas espécies nossas como o azevinho, o medronheiro, o azereiro e o carvalho foram quase esquecidas. Embora haja lá alguns exemplares de carvalho-comum (Quercus robur), ele não é tão abundante quanto deveria ser; foram ainda plantados alguns jovens sobreiros (Quercus suber); mas de resto, quanto ao género Quercus, nada mais se pôs no Parque a não ser um exageradíssimo número de carvalhos americanos (Q. rubra e Q. coccinea). Ninguém lá plantou uma única e escassa azinheira, nem carvalho-cerquinho, nem carvalho-negral.

Acerca de carvalhos no Parque da Cidade, era isto que sabíamos - até depararmos, há umas seis semanas, com uma pequena árvore que, se não contraria estatisticamente o que acima se escreveu, exige pelo menos uma ressalva. É óbvio que a árvore é clandestina, pois ninguém a plantaria assim, no meio de silvas e colado a um pinheiro; mas como pôde lá ter nascido, se em todo o Parque não existe outra da mesma espécie? Terá um pássaro trazido a bolota? Alguém a semeou? Trata-se de um carvalho-negral (Quercus pyrenaica), espécie endémica do sudoeste europeu que é espontânea no interior norte e centro de Portugal. A folha deste carvalho, de lobos mais sulcados que a do carvalho-comum, distingue-se também pela sua densa penugem (por contraste, a folha do Q. robur é glabra).

Além de clandestino, este carvalho-negral é também pioneiro - o primeiro da sua espécie que alguma vez encontrámos no Porto. Oxalá seja legalizado e protegido, e outros seus irmãos se lhe possam vir juntar.

10/07/2005

Há um ano: Ben- Raiz

Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombros
Doem-me as ondas do mar como gargantas de cristal
Dói-me o luar - branco pano que se rasga.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral (1950)


Fotos: pva 0505 - Porto: derrube de eucaliptos na EN 209

09/07/2005

Pesadelo dos dias Verão

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Foto: pormenor dos vasos esculpidos na entrada do edifício do Instituto Botânico do Porto

Há justamente um mês, a tarde de sol no Porto começou a ficar toldada e a luz adquiriu um tom que não enganava: um grande incêndio lavrava, algures fora da cidade!
No Jardim do Botânico, onde então me encontrava, a visão aterradora do maligno materializou-se, ali, subitamente à minha frente, sobre o fundo da melaleuca em flor.
Ontem foi logo pela manhã, esta luz a lembrar-nos que continuava o pesadelo da noite.
Nestas ocasiões de incêndios, o meu pensamento angustiado não lamenta apenas a destruição das árvores, mas sobretudo e principalmente dos animais..

Há um ano: Choupal de Coimbra ; Os pópulos de Monet

Árvore-do-fumo



Fotos: pva 0505 - Cotinus coggygria - Jardim Botânico do Porto

A primeira impressão é de que este arbusto está a fumar e a lançar baforadas langorosas que lhe escondem a copa. Mais de perto, as nuvens de tonalidade rósea revelam a sua identidade: são inflorescências terminais dispostas em pirâmides, com pedúnculos (hastes que suportam as flores) que são aveludados e conferem ao conjunto um aspecto plumoso.

Da família Anacardiaceae, a árvore-do-fumo é originária do Sul da Europa, China, Himalaias e América do Norte e está classificada no género Cotinus; o exemplar da foto é da espécie coggygria (algodoeiro em latim). A folhagem é caduca e verde-azulada, as folhas redondas e alternadas sem recorte no bordo, pecíolo (pé da folha que a liga ao caule) muito longo e nervuras bem marcadas. Muito usado para ornamentar jardins, o segredo do seu sucesso está justamente nas inflorescências vaporosas e na coloração das folhas, de verde brilhante no Verão a púrpura intenso no Outono antes de se desprenderem.

Há muitos exemplares de Cotinus coggygria na cidade, concedendo a muitos recantos ajardinados uma atmosfera diáfana de onde esperamos que surjam gnomos, fadas e outras pequenas maravilhas.

08/07/2005

ALIADOS - actualização

  • Queixa contra a Câmara M. do Porto e a empresa Metro do Porto enviada ao Ministério Público
  • A recolha de assinaturas
  • "Reunião pública" nos Jornais

Imagens da beleza...

... em Londres, cidade viva




Fotos: pva 0506 - Kenwood House; Chiswick House; Chelsea Physic Garden

07/07/2005

"Plátano de Portalegre"

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Portalegre 2002-08
«O mais célebre plátano do país é o de Portalegre, que se situa num jardim desta cidade, cuja sombra é muito apetecível principalmente no Verão. Esta árvore que foi plantada em 1838 junto a uma linha de água, tem hoje o tronco em grande parte soterrado, em virtude dos aterros sucessivos para nivelamento do actual arruamento (Av. da Liberdade). Está considerado de interesse público por decreto publicado em "Diário do Governo".
Do tronco que presentemente é muito curto, com 5, 26 m de P.A.P., saem inúmeras pernadas que formam uma copa larga e densa, com 27 m. de diâmetro.
É de notar que este plátano, segundo Sousa Pimentel, em 1894 tinha 3 metros de P.A.P. e a copa 24 m. de diâmetro.» Ernesto Goes- in Árvores Monumentais de Portugal ,1984




Adenda- 21 Março de 2007 - depois de ler o interessante texto publicado sobre o dia da árvore (no jardinando sem parar) em que se refere esta árvore classificada, resolvi acrescentar as seguintes informações:
Junto deste plátano encontram-se duas placas comemorativas: a que vemos na fotografia assinala a comemoração dos 160 anos da árvore e data de Dezembro de 1998; numa outra pequena lage (ver foto) datada de Junho de 2000, assinalando o Dia Mundial do Ambiente, pode ler-se que a árvore foi classificada de interesse público em 1939 e que as suas dimensões eram então as seguintes: diâmetro da copa- 46 metros; perímetro do tronco: 5,66 m. ; altura: 30 metros.

Ver aqui e aqui duas interessantes fotografias antigas deste plátano, nos anos 40 do século XX e dos anos 80 do século XIX.

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06/07/2005

O mistério do Regulamento Municipal dos Espaços Verdes

Talvez não seja do conhecimento geral, mas o Porto possui, desde meados de 2004, um Regulamento Municipal dos Espaços Verdes (RMEV), disponível para consulta na página web da CMP, que define, entre outras coisas, as regras a respeitar na arborização de ruas: dimensão das caldeiras, compasso entre as árvores num alinhamento, etc. A insuficiência do RMEV é claramente ilustrada pelo caso dos plátanos na Av. da Boavista aqui tão bem descrito pela Eng.ª Ana Aguiar: é que essa plantação, marcada por erros tão flagrantes, em nada colide com as posturas do regulamento.

Em Fevereiro de 2004, no âmbito da discussão pública do RMEV, apresentámos por escrito, em nome da associação Campo Aberto, um conjunto de sugestões que, se tivessem sido acolhidas, poderiam ter evitado ou atenuado este triste caso. Para que o leitor possa ajuizar dessa afirmação, transcrevemos de seguida algumas dessas sugestões.

  1. Mudar, no parágrafo 13.1 do Anexo I, a passagem «covas com dimensões mínimas de 1,0 m de diâmetro ou de lado e 1,0 m de profundidade» para «covas com dimensões mínimas de 1,15 m de diâmetro ou 1 m de lado e 1,0 m de profundidade». (...) Acrescentar ao mesmo parágrafo a frase: «Para árvores de grande porte, como plátanos, tílias, carvalhos (Quercus robur ou Quercus rubra), lodãos (Celtis australis), tulipeiros (Liriodendron tulipifera) e liquidâmbares (Liquidambar styraciflua), as covas devem ter dimensões mínimas de 1,6 m de diâmetro ou 1,4 m de lado e 1,4 m de profundidade.»


  2. Mudar, no parágrafo 14.3 do Anexo I, a passagem «As caldeiras das árvores devem apresentar uma dimensão mínima de 1 m2» para «As caldeiras das árvores devem apresentar uma dimensão mínima de 1 m2 no caso de árvores de pequeno e médio porte e de 2 m2 no caso das árvores de grande porte».


  3. Acrescentar, ao parágrafo 14.3 do Anexo I, a frase: «É aconselhável o uso da faixa contínua de terra vegetal nos casos em que a largura do passeio permita a criação desse tipo de barreira protectora entre os peões e outro tipo de circulação (ciclovias, automóveis, etc.).»


  4. Intercalar, no Anexo I, entre os parágrafos 14.3 e 14.4, um novo parágrafo com os seguintes dizeres: «Na escolha da árvore a plantar deve ter-­se em conta o espaço aéreo disponível no local, para que ela possa tanto quanto possível desenvolver­-se livremente, sem necessidade de podas mutiladoras. Em ruas estreitas e em locais onde a distância a paredes ou muros altos seja inferior a 5 m, só devem plantar­-se árvores de médio ou pequeno porte ou de copa estreita.»
Não é talvez exacto dizer que as nossas sugestões foram integralmente rejeitadas, pois recebemos, após grande insistência e com meses de atraso, uma comunicação da Câmara explicando o porquê da aceitação ou recusa das propostas - e houve pelo menos uma, de menor importância, que terá sido incorporada na versão final. Nas fotocópias enviadas faltavam páginas, e nunca soubemos, por exemplo, se as propostas em cima transcritas foram ou não acolhidas. Claro que devíamos ter insistido - mas, depois de tantas cartas, telefonemas e até reuniões, já nos falecia a paciência e o assunto ficou esquecido. O golpe de mestre, que esvazia por completo toda a consulta pública, é que o texto do RMEV ainda hoje no site da Câmara é, sem tirar nem pôr, o mesmo que esteve à discussão. Se se fizeram alterações (e garantiram-nos que sim), elas ficaram sepultadas em alguma gaveta; ao texto a que o público tem acesso não foi mudada uma vírgula. (E, para falar verdade, só em vírgulas haveria muita coisa a mudar.)

Vindo toda esta conversa a propósito de plátanos, eis uma foto para lembrar como eles podem ser grandes:


Foto: pva 0506 - Platanus orientalis - Kew Gardens

05/07/2005

Plátanos na Avenida da Boavista: porquê?

por Ana Aguiar (Eng.ª Agrícola)

Na Avenida da Boavista, associado às obras de requalificação do troço Poente, estão a ser plantados plátanos.

PORQUÊ PLÁTANOS?
Este troço da Avenida já teve, no separador central, árvores de copa estreita como negrilhos, bétulas e choupos. Do lado Norte, ao longo do Parque da Cidade havia tílias. Mais a Nascente, entre a Fonte da Moura e a Avenida Gomes da Costa, há ligustros.

Nas obras em curso foram plantados plátanos com compasso de cerca de 8 metros. O plátano (Platanus x hispanica) é uma espécie arbórea de grande vigor vegetativo que, nas condições climáticas da cidade do Porto, atinge frequentemente grande porte: vejam-se os jovens plátanos do separador central da Circunvalação que, plantados há 7 anos, já ultrapassaram 14 m de diâmetro (projecção da copa no solo).

Na Avenida da Boavista os plátanos foram plantados em passeios com 2 m. O que acontecerá daqui a 7 anos? E daqui a 20?

As copas das árvores agora plantadas serão forçadas a ajustar-se às copas das árvores existentes nos jardins que ladeiam a Avenida. As novas árvores não deveriam ser ajustadas às existentes?

PORQUÊ PLÁTANOS?
Os plátanos têm sido amplamente usados em espaços públicos da cidade do Porto, mostrando características de criação de ambiente urbano muito interessantes: no Verão, produzem sombra, frescura e oxigénio, e no Inverno deixam os raios de sol penetrar até ao solo e ao interior das casas. Contudo, é importante referir que se trata de uma espécie que tem dificuldade em se adaptar às condições adversas da proximidade do mar. Os plátanos próximos do mar são mais sensíveis à Antracnose (doença causada por um fungo cujo sintomatologia mais visível é o aparecimento de folhas parcialmente secas). Na Primavera, as primeiras folhas secam devido à fitoxidade dos ventos salgados provenientes do mar, situação que deixa de ser visível quando novas camadas de folhas vão surgindo. Nos jardins do extremo ocidental da Avenida espécies como metrosíderos, pitósporos e pinheiros mostram estar bem adaptadas às condições adversas que a proximidade do mar proporciona. Porquê plátanos?

A PLANTAÇÃO - CAIXAS DE PLANTAÇÃO
Os plátanos da Avenida da Boavista foram plantados em caixas com 1 m3, e algumas têm menos pois parte desse espaço está ocupado por tubos ou cimento.

Como se irão desenvolver as raízes destas árvores em tão pouco espaço?

A PLANTAÇÃO - ÉPOCA DE PLANTAÇÃO
Estão a ser plantadas árvores no fim de Junho, quando o calor é muito, e a grande massa foliar que perde água por evapotranspiração exigirá redobrado esforço da árvore e necessidades acrescidas de água: muitas morrerão. Retiram-se árvores já em desenvolvimento substituindo-as por outras que ainda terão de passar a ?crise de transplantação? com elevados acréscimos de custo. Porquê agora?

Pergunta-se portanto porquê plátanos, porquê agora, porquê assim - em caixas com 1 m3 - e, sobretudo, porquê no troço Poente da Avenida da Boavista junto ao Parque da Cidade, junto aos jardins das moradias e tão próximos da acção do mar?

Nos últimos anos houve uma significativa melhoria na manutenção da generalidade dos espaços públicos verdes da cidade do Porto. Parece-me contudo difícil manter os plátanos agora plantados na Avenida da Boavista.

Porto, 1 de Julho de 2005

Baixa florida

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A Baixa está digna de se ver com a calçada portuguesa resplandecente, os canteiros coloridos e os ligustros também já em flor. Uma alegria ... não fora a horrível ameaça!
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04/07/2005

Há um ano: Coroa de Palmas; Palmeiras em Vilar d'Allen ; Nike- Vitória- Dea Palmaris

Um murmúrio do passado


Fotos: pva 0506 - Wollemia nobilis - Kew Gardens

Em Setembro de 1994, David Noble, ao serviço do NSW National Parks & Wildlife (Austrália) , deparou-se com um bosque, numa zona arenosa e de difícil acesso de um desfiladeiro a cerca de 700 metros de altitude do Wollemi National Park, com umas 40 árvores que não reconheceu. Começou aí a revelação da história fascinante da espécie Wollemia nobilis, uma das mais importantes descobertas botânicas do século XX.

O "pinheiro" de Wollemi - ou, mais carinhosamente, wollemia - conífera da família Araucariaceae e portanto parente próxima das araucárias e da agathis, é uma das mais antigas plantas do planeta. Contemporânea dos dinossauros, conheciam-se dela fósseis bem conservados com 91 milhões de anos, tendo os botânicos deduzido que se teria extinguido há 2 milhões de anos. Os poucos exemplares adultos vivos do Wollemi Park, que curiosamente não revelam diferenças genéticas entre si, estão agora a ser alvo de medidas especiais de salvaguarda e conservação; a par está a ser seguido um programa cuidadoso de reprodução a partir de sementes ou estacas, de que resultou esta jovem wollemia plantada nos Kew Gardens.

Os exemplares adultos têm cerca de 40 metros de altura e 1 metro de diâmetro do tronco. O ritidoma parece ter bolhinhas e é da cor do chocolate. Trata-se de uma espécie monóica, isto é, cada planta tem cones masculinos e femininos, que nascem nos extremos dos ramos. A folhagem da wollemia é peculiar. Cada árvore apresenta dois tipos de ramos: os que crescem na vertical, geralmente desde a base da árvore, e se assemelham a troncos suplementares; e os que se desenvolvem lateralmente e onde se dispõem as folhas, que são sésseis e se alinham em 4 fiadas, estruturadas em duas camadas de cada lado do ramo essencialmente sobrepostas (o que parece um desperdício da natureza...). Os botânicos têm detectado que, caprichosamente, as estacas retiradas do topo da árvore produzem rebentos que crescem verticalmente, enquanto que das colhidas da base resultam ramos que crescem lateralmente.

O nome científico do género, Wollemia, deriva da latinização da palavra Wollemi, o nome do parque onde as árvores foram encontradas; o epíteto da espécie, nobilis, é um tributo a David Noble que as descobriu.

O governo australiano, através do Department of the Environment and Heritage e em colaboração com os Royal Botanic Gardens de Sydney, tem ajudado a divulgar e a conservar esta espécie preciosa, conforme aqui se descreve.